Em um movimento diplomático sem precedentes desde o início da guerra na Ucrânia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu nesta segunda-feira (18) o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e uma comitiva de líderes europeus na Casa Branca. O encontro, articulado às pressas após a cúpula entre Trump e Vladimir Putin no Alasca, sinaliza uma nova fase nas negociações para encerrar o conflito que já dura mais de três anos.
Uma reunião histórica
Seis meses após um encontro tenso entre Trump e Zelensky, marcado por críticas públicas e acusações de ingratidão, o clima desta vez foi visivelmente mais cordial. Zelensky, vestido com traje formal em vez do uniforme militar habitual, agradeceu repetidamente ao presidente americano por seus esforços em busca da paz. “Obrigado pelo convite e muito obrigado pelos seus esforços pessoais para parar as mortes e acabar com esta guerra”, disse o líder ucraniano, em um gesto que pareceu cuidadosamente ensaiado para evitar atritos.
A reunião contou com a presença de figuras-chave da política europeia: Emmanuel Macron (França), Friedrich Merz (Alemanha), Keir Starmer (Reino Unido), Giorgia Meloni (Itália), Alexander Stubb (Finlândia), Ursula von der Leyen (Comissão Europeia) e Mark Rutte (Otan). Todos expressaram apoio à Ucrânia e elogiaram Trump por reunir os líderes em um esforço conjunto pela paz.
Garantias de segurança: o novo foco das negociações
O principal tema da cúpula foi a discussão sobre garantias de segurança para a Ucrânia. Trump revelou que Putin aceitou, pela primeira vez, considerar garantias ocidentais para Kiev como parte de um acordo de paz. Embora o republicano tenha descartado a entrada da Ucrânia na Otan, ele sugeriu um modelo de proteção semelhante ao Artigo 5 da aliança, que prevê defesa coletiva em caso de agressão.
– “Estou otimista de que, coletivamente, podemos chegar a um acordo que impeça qualquer agressão futura contra a Ucrânia”, afirmou Trump. Ele também indicou que os países europeus devem assumir a liderança nesse processo, com os Estados Unidos oferecendo apoio estratégico e financeiro.
Zelensky, por sua vez, reforçou que a Ucrânia não aceitará concessões territoriais como condição para a paz. “Estamos prontos para encontrar um caminho diplomático, mas nunca à custa da nossa soberania”, declarou.
Troca de territórios: ponto de tensão nas negociações
Apesar da abertura diplomática, um dos pontos mais controversos permanece: a possível troca de territórios. A Rússia exige que a Ucrânia ceda completamente o Donbass — incluindo Donetsk e Luhansk — e propõe congelar as frentes de batalha em Kherson e Zaporizhzhia. Trump não descartou essa possibilidade, afirmando que “tudo está na mesa”.
Zelensky evitou se posicionar diretamente sobre o tema, dizendo apenas que “essa é uma questão entre mim e Putin”. Já o chanceler alemão Friedrich Merz foi mais enfático: “A exigência russa de que Kiev ceda partes livres do Donbass corresponde, francamente, a uma proposta de que os Estados Unidos cedam a Flórida”.
Macron adotou uma postura mais diplomática, afirmando que “cabe à Ucrânia decidir em relação às concessões territoriais”, mas alertou para os riscos de legitimar a tomada de territórios pela força.
Reunião trilateral à vista
Ao final da cúpula, Trump anunciou que iniciou os preparativos para uma reunião trilateral entre ele, Zelensky e Putin. O encontro, ainda sem data ou local definidos, seria o primeiro entre os três líderes desde o início da guerra em fevereiro de 2022.
– “Se tivermos esse encontro, acredito que existe uma boa chance de encerrar a guerra. Se não tivermos, a luta continua”, disse Trump. O Kremlin confirmou a ligação entre os presidentes e sinalizou abertura para negociações diretas, embora sem confirmar a participação de Putin na reunião trilateral.
Acordos econômicos e militares em paralelo
Além das discussões políticas, a cúpula também resultou em acordos estratégicos. A Ucrânia se comprometeu a comprar até 100 bilhões de dólares em armas americanas, financiadas por países europeus. Também foi firmado um acordo de 50 bilhões de dólares para produção conjunta de drones militares entre empresas dos EUA e da Ucrânia.
Zelensky destacou que a reconstrução do país dependerá do uso dos 300 bilhões de dólares em ativos russos congelados no Ocidente como compensação pelos danos da guerra.
Europa busca papel mais ativo
A presença dos líderes europeus foi vista como uma tentativa de evitar que Trump e Putin decidam os rumos da guerra sem consultar Kiev ou seus aliados. Macron chegou a propor uma cúpula quadrilateral, incluindo a União Europeia, para garantir que a segurança do continente seja considerada nas negociações.
– “Quando falamos sobre garantias de segurança, também estamos falando da segurança de toda a Europa”, afirmou o presidente francês.
Caminho incerto, mas com sinais de progresso
Apesar das divergências sobre cessar-fogo e concessões territoriais, o encontro em Washington representou um avanço diplomático. Pela primeira vez, há sinais concretos de que Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e Europa estão dispostos a negociar diretamente.
Zelensky resumiu o sentimento ao final da reunião: “Acho que tivemos a melhor conversa com o presidente Trump até agora. E acredito que estamos todos na mesma página”.