Após seis meses de tratamento intensivo contra a leucemia linfoide aguda, o prefeito de Angical do Piauí, Bruno Neto, voltou à sua cidade natal nesta terça-feira (29), marcando um momento de profunda emoção e esperança para a população local. Aos 38 anos, Bruno enfrentou uma das fases mais desafiadoras de sua vida, passando por internações, cirurgias complexas e um transplante de medula óssea em São Paulo. Agora, mesmo ainda debilitado, ele celebra o retorno ao lar e à convivência com familiares e amigos.
Diagnóstico precoce e início da luta
A jornada começou em outubro de 2024, quando exames de rotina revelaram alterações nos leucócitos. Em novembro, veio o diagnóstico definitivo: leucemia linfoide aguda (LLA), uma forma agressiva da doença que afeta a produção de células sanguíneas. “Foi a segunda pior notícia da minha vida, depois da morte do meu pai”, revelou Bruno em uma publicação nas redes sociais.
A gravidade do quadro exigiu transferência imediata para São Paulo, onde o prefeito iniciou um tratamento intensivo que incluiu sessões de quimioterapia, internações prolongadas e, posteriormente, um transplante de medula óssea.
Transplante e complicações graves
O procedimento foi realizado em 6 de maio, com medula doada por seu irmão Barone, cuja compatibilidade de 100% foi considerada decisiva para o sucesso. Doze dias após o transplante, exames confirmaram que as novas células estavam produzindo sangue saudável, atingindo 100% de quimerismo — um indicador de que todas as células sanguíneas passaram a ser originadas da medula do doador.
Apesar do sucesso clínico, o processo foi marcado por complicações severas. Bruno precisou passar por uma cirurgia de emergência para retirada do baço e de parte do estômago, devido a necroses. Também sofreu necrose na cabeça do fêmur, o que o deixou 30 dias sem andar. Ao todo, perdeu cerca de 27 quilos, indo de 87 kg para 60 kg.
“Estou com três meses de vida”, disse o prefeito, referindo-se ao tempo decorrido desde o transplante. “Meu corpo está praticamente sem imunidade. Tenho que tomar todas as vacinas como se fosse uma criança recém-nascida.”
Retorno com restrições e cuidados intensivos
Mesmo com a alta hospitalar, Bruno Neto permanece sob cuidados médicos rigorosos. Os primeiros 100 dias após o transplante são considerados críticos, e ele segue em isolamento parcial, com restrições severas: não pode se expor ao sol, à poeira, ter contato com animais ou com pessoas gripadas. O uso de máscara será obrigatório até maio de 2026, quando se completará um ano do procedimento.
“Já comi uma galinha caipira e estou me sentindo mais forte”, brincou o prefeito em vídeo publicado nas redes sociais, demonstrando bom humor apesar das limitações. Ele também compartilhou que está iniciando um novo calendário vacinal, semelhante ao de um recém-nascido, como parte do protocolo pós-transplante.
Licença médica e retorno ao cargo
Bruno está afastado do cargo desde fevereiro de 2025. Sua licença médica segue válida até o dia 22 de agosto, com previsão de retorno oficial à Prefeitura de Angical no dia 23. Até lá, ele dará início ao processo de transição com o vice-prefeito e continuará em recuperação domiciliar, com deslocamentos semanais a Teresina para exames de acompanhamento.
“Preciso desse tempo para reorganizar minha casa e minha cabeça. Quero fazer um monte de coisa, mas não posso, por conta do período de recuperação”, explicou.
População de Angical celebra com emoção o retorno do prefeito
A volta do prefeito gerou grande comoção nas redes sociais e entre os moradores de Angical. Mensagens de apoio, orações e homenagens se multiplicaram. Bruno fez questão de agradecer à população, à equipe médica e à família. “Foram meses de luta diária, mas também de muita fé, esperança e amor. Voltar para minha terra é uma bênção”, declarou.
Em um dos momentos mais tocantes de sua jornada, Bruno compartilhou uma foto ao lado da mãe, no hospital, durante o Dia das Mães. “Aqui estamos nós, isolados em um quarto de hospital, quase 40 anos depois, desta vez aguardando meu renascimento através da medula do meu irmão.”
Alerta para doação de medula
O caso de Bruno Neto também reacende o debate sobre a importância da doação de medula óssea no Brasil. No Piauí, apenas 3% da população está cadastrada como doadora, número considerado abaixo do ideal. A compatibilidade genética é essencial para o sucesso do transplante, e o exemplo do prefeito mostra como a solidariedade familiar pode salvar vidas.
