Em uma virada política surpreendente, o presidente argentino Javier Milei e seu partido, La Libertad Avanza (LLA), conquistaram uma vitória expressiva nas eleições legislativas realizadas no último domingo, 26 de outubro.
Com mais de 98% das urnas apuradas, o LLA obteve cerca de 41% dos votos,e superou amplamente a principal força opositora, o peronismo kirchnerista, representado pela coalizão Força Pátria, que obteve cerca de 31,6%.
A eleição renovou 127 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados e 24 das 72 do Senado, e os resultados colocam Milei em uma posição significativamente mais forte para aprovar suas reformas econômicas e institucionais. O LLA garantiu 64 cadeiras na Câmara e 13 no Senado, elevando sua bancada para 92 deputados e 19 senadores, um salto considerável em relação aos 37 deputados e 6 senadores que possuía anteriormente.
Vitória em redutos peronistas
A vitória foi ainda mais impactante por ocorrer após uma derrota significativa nas eleições provinciais de setembro, especialmente na Província de Buenos Aires, tradicional bastião do peronismo. Na ocasião, Milei havia perdido por 14 pontos percentuais. No entanto, neste pleito nacional, o LLA venceu na província, com 41,53% dos votos, contra 40,84% do peronismo, consolidando uma reviravolta histórica
“Hoje começa a construção de uma grande Argentina”, declarou Milei em seu discurso de vitória, diante de uma multidão em Buenos Aires. “O povo argentino decidiu deixar para trás cem anos de decadência e persistir no caminho da liberdade, do progresso e do crescimento”.
Fôlego para reformas
Com o novo cenário legislativo, Milei passa a ter poder de veto garantido, já que seu partido controla mais de um terço das cadeiras na Câmara. Isso significa que vetos presidenciais não poderão ser derrubados sem apoio de uma maioria qualificada, o que confere ao presidente maior autonomia para conduzir sua agenda.
Além disso, para aprovar projetos centrais, como reformas econômicas e trabalhistas, Milei precisará do apoio de apenas 15 deputados adicionais, número que pode ser alcançado com o suporte de partidos independentes e aliados, como o PRO, de Mauricio Macri.
Superando crises e escândalos
A vitória de Milei ocorre após meses de turbulência política e econômica. O presidente enfrentou escândalos de corrupção, incluindo acusações contra sua irmã e secretária-geral da Presidência, Karina Milei, além de críticas ao seu estilo autoritário e à condução do ajuste fiscal. A inflação, embora controlada em parte, ainda afeta o cotidiano dos argentinos, e a popularidade do presidente havia caído para cerca de 34% segundo pesquisas recentes.
Mesmo assim, Milei conseguiu mobilizar o chamado “voto envergonhado”, composto por eleitores que, apesar das críticas, preferem evitar o retorno do kirchnerismo. A campanha do LLA apostou na polarização e no discurso de “liberdade versus decadência”, o que parece ter ressoado com uma parcela significativa do eleitorado.
Apoio internacional e impacto nos mercados
O apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também teve papel relevante. Trump ofereceu um pacote de US$ 40 bilhões em ajuda financeira e interveio diretamente no mercado cambial argentino para conter a desvalorização do peso. A vitória de Milei foi celebrada por Trump como uma “confirmação da confiança do povo argentino.
Os mercados reagiram com entusiasmo. A Bolsa de Buenos Aires subiu mais de 20%, e ações de empresas argentinas listadas em Nova York dispararam até 45%. O dólar caiu cerca de 5,6% frente ao peso, e os títulos da dívida argentina atingiram seus maiores valores desde o início do governo Milei.
Desafios à frente
Apesar da vitória, Milei ainda não possui maioria absoluta no Congresso. Para aprovar reformas estruturais mais profundas, como mudanças no sistema tributário e previdenciário, será necessário negociar com outras forças políticas. O presidente já sinalizou disposição para o diálogo com governadores e partidos de centro-direita.
“Nos próximos dois anos, precisamos consolidar o caminho reformista”, afirmou Milei, indicando que pretende realizar uma reforma ministerial e ampliar sua base de apoio político.
Participação eleitoral e cenário político
A participação eleitoral foi de 67,85%, a mais baixa desde a redemocratização do país em 1983. Embora o voto seja obrigatório na Argentina, o número reflete uma certa apatia política, mas também indica que Milei conseguiu mobilizar sua base em um momento crítico.
Com a vitória, o presidente argentino encerra o que muitos analistas consideravam o pior momento de seu governo, marcado por instabilidade, escândalos e dúvidas sobre sua capacidade de governar. Agora, com um Congresso mais favorável, Milei tem a oportunidade de transformar sua plataforma libertária em políticas concretas.
A vitória do LLA também provocou reações na política sul-americana. Políticos brasileiros ligados à direita, como Tarcísio de Freitas e Flávio Bolsonaro, celebraram o resultado como um sinal de fortalecimento do conservadorismo na região.
“O povo argentino escolheu o caminho da liberdade”, escreveu Flávio Bolsonaro. Já o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, comparou a atuação de Milei à sua própria gestão: “A Argentina tem se recuperado com base em liberdade econômica, corte de gastos e sem privilégios para a casta política.”



