Bruenque.com.brBRASILOperação Carbono Oculto 86 desmonta braço financeiro do PCC no Piauí e exibe luxo ligados à lavagem de dinheiro de empresários investigados

Operação Carbono Oculto 86 desmonta braço financeiro do PCC no Piauí e exibe luxo ligados à lavagem de dinheiro de empresários investigados

A manhã do dia 5 de novembro de 2025 marcou um dos maiores golpes contra o crime organizado no estado do Piauí. A Operação Carbono Oculto 86, deflagrada pela Polícia Civil do Piauí, revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro, fraude fiscal e adulteração de combustíveis, com ramificações diretas ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A ação, que integra o programa “Pacto Pela Ordem” do governo estadual, resultou na interdição de 49 postos de combustíveis no Piauí, Maranhão e Tocantins, no bloqueio de R$ 348 milhões em bens e na apreensão de jatos e carros de luxo.

No centro do esquema, segundo as investigações, estão empresários que, longe de se esconder, exibiam uma vida de alto padrão nas redes sociais, com viagens internacionais frequentes, jantares em restaurantes finos e residências em condomínios de elite em Teresina.

O que foi descoberto?

A investigação revelou que o PCC havia montado uma célula financeira autônoma no Piauí, operando por meio de empresas de fachada, fintechs e fundos de investimento. O esquema movimentou cerca de R$ 5 bilhões, sendo R$ 300 milhões apenas no Piauí.

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Posto de combustível interditado – Foto: Divulgação/SSP-PI

Segundo o delegado Anchieta Nery, diretor de Inteligência da SSP-PI, o grupo que operava no Piauí era considerado o “braço financeiro” do PCC no estado. O esquema era sofisticado: utilizava uma rede de postos de combustíveis – a Rede HD – para duas frentes ilegais principais: a adulteração de combustíveis e a lavagem de capitais oriundos do crime organizado.

“O PCC percebeu que atividades lícitas também podem ser lucrativas. Adulterar combustível virou negócio”, afirmou o delegado.

A investigação, que cruzou dados de inteligência financeira e de segurança aponta que o modus operandi incluía a emissão de notas fiscais frias, fraudes fiscais e o uso de fundos de investimento e fintechs – alguns dos mesmos já investigados na operação nacional Carbono Oculto, deflagrada em São Paulo em agosto – para ocultar a origem ilícita do dinheiro.

Um ponto crucial foi a venda fraudulenta da Rede HD. Em dezembro de 2023, a rede foi vendida para a Pima Energia Participações Ltda, uma empresa criada em São Paulo apenas seis dias antes da transação. “A gente sempre observa, por meio das provas, a simbiose entre o grupo de São Paulo e os empresários [do Piauí]”, frisou o delegado Anchieta Nery, destacando que a sucessão societária foi uma manobra para tentar mascarar o controle real dos negócios

Quem são os empresários investigados?

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Os rostos da Operação Carbono Oculto que lavou milhões no Piauí para o PCC

Entre os principais alvos da operação estão:

Haran Santhiago Girão Sampaio – Sócio da Rede HD, dono de avião e veículos de luxo. Foi abordado no Aeroporto de Guarulhos com dinheiro e eletrônicos

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Danillo Coelho

Danillo Coelho de Sousa – Sócio-fundador da HD Petróleo, interceptado em Teresina com bens apreendidos.

Haran  e Danillo eram considerados os principais elos do esquema criminoso no Piauí, atuando como líderes da rede de postos HD.

 

Thamyres Leite Moura Sampaio e Thayres Leite Moura Coelho – Esposas dos empresários, também investigadas por participação no esquema.

Denis Alexandre Jotesso Villani – Empresário paulista ligado à Rede Diamante, envolvido em mais de 40 empresas.

Rogério Garcia Peres – Gestor da Altinvest, apontado como operador financeiro do PCC.

Mohamad Hussein Mourad, apelidado de Primo , é apontado como um dos principais articuladores da expansão nacional do esquema de lavagem de dinheiro ligado ao PCC. Mourad teria desempenhado um papel estratégico na ampliação da rede de empresas utilizadas para disfarçar a origem ilícita dos recursos, conectando operações do Sudeste ao Nordeste do país.

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Ex-vereador de Teresina – Victor Linhares;

Victor Linhares, ex-vereador de Teresina e ex-secretário municipal da atual gestão, tornou-se um dos alvos da Operação Carbono Oculto 86 após ser identificado em uma transação financeira suspeita de R$ 230 mil. A origem do valor está ligada à rede de postos HD, apontada como epicentro das operações ilícitas no Piauí.

A vida de luxo

Enquanto os postos supostamente adulteravam combustíveis e lavavam dinheiro, os casais principais investigados viviam uma realidade paralela de ostentação. As irmãs gêmeas Thamyres e Thayres mantinham perfis no Instagram repletos de imagens que chamaram a atenção da polícia. “As irmãs postavam frequentemente, sem preocupação em esconder a vida de alto padrão, diversas fotos em restaurantes de luxo e em viagens internacionais ao lado de seus esposos e filhos”, descreveu um trecho das investigações.

Irmãs-ostentando-luxo-As-irmãs-Thamyres-e-Thayres-Leite-Moura-aparecem-em-foto-publicada-nas-redes-sociais-ostentando-vida-de-luxo-com-viagens-frequentes-e-bens-de-alto-padrão-ambas-são-investigadas-na-Operação-Carbono-Oculto-86-por-suspeita-de-envolvimento-com-lavagem-de-dinheiro-ligada-ao-PCC
Irmãs Thamyres e Thayres Leite Moura

Na manhã da quinta-feira (6), Haran e Thamyres compareceram ao DRACO (Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) para tomar ciência das medidas restritivas impostas pela Justiça. Eles, assim como os outros casais, agora estão:

Proibidos de sair do país e obrigados a entregar os passaportes à Polícia Federal.

Proibidos de se comunicarem entre si.

Obrigados a comparecer à polícia sempre que intimados.

Proibidos de sair de Teresina sem autorização judicial.

Além do bloqueio de bens e contas bancárias dos investigados, a justiça determinou também a apreensão de passaportes e restrições de comunicação entre os envolvidos.

Postos interditados no Piauí

A operação interditou 49 postos, sendo 16 apenas em Teresina. Veja alguns dos principais:

Posto HD 06 – Buenos Aires

Posto HD 14 / Diamante 14 – Zoobotânico

Posto HD 20 – Angelim

HD Petróleo Premium Ltda – Parque Itararé

Posto HD 05 – Mafrense

Posto HD 13 – Fátima

Posto HD 10 / Diamante 10 – Centro

Outros municípios afetados incluem Parnaíba, Altos, Picos, Uruçuí, Canto do Buriti, Miguel Leão, Lagoa do Piauí, Demerval Lobão, Oeiras e São João da Fronteira.

Impacto econômico

A Secretaria da Fazenda do Piauí (Sefaz-PI) estima que a operação pode recuperar R$ 20 milhões aos cofres públicos. Foram identificadas fraudes tributárias, emissão de notas fiscais frias e postos funcionando sem autorização da ANP.

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Vida luxuosa

Segundo o presidente do Instituto de Metrologia do Piauí (IMEPI), Júlio Macedo, os postos entregavam até 10% menos combustível do que o registrado nas bombas. “A fraude podia ser ativada remotamente, até por celular”, disse Macedo.

Além do prejuízo ao consumidor, o esquema gerava concorrência desleal e evasão fiscal, afetando diretamente a economia local e a arrecadação estadual.

Bens de luxo apreendidos

Durante a operação, foram apreendidos:

Um avião modelo Cessna Aircraft 210M, pertencente a Haran Sampaio.

Um Porsche avaliado em R$ 550 mil.

Relógios de luxo, eletrônicos e documentos fiscais.

A SSP-PI solicitou à Anac a inserção de gravames nas aeronaves para impedir sua comercialização.

Como funcionava o esquema?

Compra de postos por empresas recém-criadas, como a Pima Energia Participações Ltda., fundada seis dias antes da aquisição da Rede HD.

Troca de bandeiras comerciais, mantendo o controle real com os mesmos empresários.

Lavagem de dinheiro por meio de fintechs e fundos como Altinvest e Jersey FIP.

Adulteração de combustíveis e manipulação de bombas.

Ocultação patrimonial com uso de “laranjas” e holdings sediadas na Avenida Paulista, em São Paulo.

O que dizem as autoridades?

O secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas, afirmou que a operação é um marco histórico:

“É a primeira vez que identificamos o braço financeiro do PCC investindo no Nordeste. O foco agora é transformar lucros do tráfico em capital legalizado.”

A Operação Carbono Oculto 86 expõe como o crime organizado se infiltra em setores formais da economia, utilizando estruturas empresariais para blindar recursos ilícitos. O caso do Piauí revela que o mercado de combustíveis, por sua alta movimentação e baixa fiscalização, tornou-se um terreno fértil para esse tipo de atuação.

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 Imagem: Divulgação/SSP-PI

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José Pereira

O editor e fundador do portal bruenque.com.br. Há duas décadas joga no time do jornalismo da Rádio Tribuna de Regeneração: produziu e editou milhares de matérias, reportagens e entrevistas ao longo de 23 anos atuando na área.

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