O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento nesta terça-feira (10/06) como réu no Supremo Tribunal Federal (STF) no processo que investiga uma suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022. Diante do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro negou qualquer articulação antidemocrática, defendeu suas críticas ao sistema eleitoral e até brincou ao convidar Moraes para ser seu vice em 2026.
O interrogatório, que durou cerca de duas horas e meia, foi marcado por um tom cordial, com momentos de descontração entre Bolsonaro e o relator do caso. No entanto, o ex-presidente manteve sua defesa contra as acusações de liderar uma organização criminosa para permanecer no poder após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os principais pontos do depoimento foram:
1. Negação de golpe e defesa de “discussões constitucionais”
Bolsonaro afirmou que nunca houve um plano de ruptura democrática e que todas as conversas com militares e aliados foram dentro da legalidade.
– “Da minha parte ou por parte de comandantes militares, nunca se falou em golpe. Golpe é uma coisa abominável. O Brasil não poderia passar por essa experiência, e não foi sequer cogitado no meu governo”, declarou .
No entanto, admitiu que discutiu “possibilidades” de contestar o resultado das eleições, mas insistiu que todas as alternativas foram descartadas por serem inconstitucionais.
2. Negação de envolvimento na minuta do golpe
Uma das acusações centrais é que Bolsonaro teria revisado um documento que previa a decretação de estado de sítio e a prisão de autoridades, incluindo Moraes. O ex-ajudante Mauro Cid, em sua delação, afirmou que Bolsonaro “enxugou” o texto, mantendo apenas a menção à prisão do ministro . Bolsonaro, porém, negou:
– “Não escrevi, não alterei, não digitei nada. Não tenho responsabilidade sobre essa minuta” .
Ele afirmou que o documento foi apenas projetado rapidamente em uma tela durante uma reunião e descartado.
3. Críticas às urnas e defesa do voto impresso
Questionado sobre seus ataques ao sistema eleitoral, Bolsonaro insistiu que suas falas eram “críticas, não ataques” e citou políticos de esquerda que também questionaram as urnas no passado, como o ministro Flávio Dino .
– “A desconfiança não começou comigo. Sempre defendi o voto impresso para trazer mais transparência”, disse .
4. Pedido de desculpas a Moraes
Em um momento de tensão, Bolsonaro pediu desculpas a Moraes por ter insinuado, em 2022, que ministros do STF receberam “milhões de dólares” para fraudar as eleições.
– “Não tenho indício nenhum, senhor ministro. Era um desabafo, uma retórica que não deveria ter sido gravada. Peço desculpas” .
5. Brincadeira com Moraes: “Quer ser meu vice em 2026?”
Em um momento inusitado, Bolsonaro brincou com o ministro:
– “Posso fazer uma brincadeira? Gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 2026”. Moraes respondeu: “Eu declino” .
A cena gerou risos no plenário, mas também críticas de juristas, que viram excesso de deferência de Bolsonaro em relação ao magistrado.
Reações ao depoimento do ex-presidente
Divergência entre juristas. Especialistas avaliaram o depoimento de forma diferente:
– Rafael Mafei (USP) considerou que o tom ameno de Bolsonaro pode desagradar sua base, que esperava um enfrentamento .
– Aury Lopes Jr. (PUC-RS) elogiou a habilidade do ex-presidente em se defender sem confrontos diretos .
Fase final do processo
Os interrogatórios do “núcleo crucial” (que inclui generais e ex-ministros) foram encerrados. Agora, o processo segue para:
– Diligências (se necessárias).
– Alegações finais (15 dias para defesa e acusação).
– Julgamento pela Primeira Turma do STF, sem data definida .
Se condenado, Bolsonaro pode enfrentar penas superiores a 40 anos por crimes como golpe de Estado e organização criminosa.
