Bruenque.com.brMUNDOTarifaço de 50% dos EUA entra em vigor; Brasil lidera a lista de países punidos por Trump com a maior taxa de importação do mundo.

Tarifaço de 50% dos EUA entra em vigor; Brasil lidera a lista de países punidos por Trump com a maior taxa de importação do mundo.

Desde a quarta-feira (6) de agosto, o Brasil passou a ser o país mais afetado pelas novas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos. Com uma alíquota total de 50% sobre diversos produtos brasileiros, a medida assinada pelo presidente Donald Trump marca um dos momentos mais tensos na relação bilateral entre os dois países em décadas.

O decreto, publicado no dia 30 de julho, combina uma tarifa recíproca de 10% com uma sobretaxa de 40%, e foi justificado pela Casa Branca como resposta a ações do governo brasileiro que, segundo Trump, representam uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional americana.

Uma tarifa com DNA político

O pano de fundo da decisão é político. O documento oficial cita diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusando-o de perseguir o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. A Casa Branca afirma que Moraes teria “intimidado empresas americanas” e “violado a liberdade de expressão de cidadãos dos EUA”.

Trump também ordenou a revogação dos vistos de oito ministros do STF e do procurador-geral da República, Paulo Gonet. “Estamos protegendo os americanos contra censura forçada e defendendo empresas contra extorsão judicial”, declarou Trump em sua rede Truth Social.

Impacto econômico: do campo à indústria

Apesar de uma lista de 694 exceções que inclui suco de laranja, petróleo, aeronaves civis e fertilizantes, cerca de 35% das exportações brasileiras para os EUA foram atingidas. Isso inclui setores estratégicos como carne bovina, café, máquinas agrícolas e produtos têxteis.

Segundo estudo da FIEMG, o impacto pode reduzir o PIB brasileiro em até R$ 110 bilhões no longo prazo, com perda de 146 mil empregos. O setor calçadista, por exemplo, já estima prejuízo de R$ 500 milhões e risco de demissão de até 20 mil trabalhadores.

“O cenário é de cautela. Estamos negociando com clientes americanos para dividir o impacto, mas há pedidos sendo cancelados”, afirma Fernando Pimentel, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).

Reações e estratégias do governo brasileiro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a medida como “inaceitável” e afirmou que o Brasil não pretende retaliar com tarifas recíprocas. “Não vou ligar para o Trump para comercializar, mas quero convidá-lo para a COP. Quero saber o que ele pensa sobre o clima”, disse Lula em evento no Itamaraty.

O governo brasileiro acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC), embora reconheça que o sistema de solução de disputas está paralisado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que uma medida provisória será editada para apoiar os pequenos exportadores, com crédito subsidiado e compras governamentais.

O mercado reage com alívio moderado

Curiosamente, o primeiro dia do tarifaço trouxe uma queda no dólar e alta na Bolsa. Às 15h de quarta-feira, o dólar recuava 0,76%, cotado a R$ 5,46, enquanto o Ibovespa subia 1,15%, puxado por ações da Petrobras, Itaú e Embraer — esta última beneficiada pela isenção de tarifas sobre aeronaves civis.

“O impacto foi menor do que o esperado graças às exceções. Mas o ambiente de negócios exige cautela”, avalia Leonel Mattos, analista da StoneX.

O fator Rússia e o risco de novas sanções

Além das tarifas, há preocupação com possíveis sanções ligadas à compra de fertilizantes e diesel da Rússia. Mais de 60% do diesel importado pelo Brasil em 2025 veio do país de Vladimir Putin, o que pode colocar o Brasil na mira de novas retaliações.

Trump já ameaçou aplicar tarifas de até 100% sobre semicondutores e produtos farmacêuticos de países que mantêm relações comerciais com Moscou.

Uma nova ordem comercial?

As tarifas de Trump atingem mais de 90 países, com alíquotas variando entre 15% e 50%. A média tarifária dos EUA saltou de 2,3% para 15,2%, o maior nível desde a Segunda Guerra Mundial. A União Europeia, Japão e Coreia do Sul conseguiram negociar taxas menores, mas o Brasil ficou isolado.

Paul Krugman, Nobel de Economia, criticou duramente a medida: “Trump não tem força para forçar um país de 200 milhões de pessoas a mudar sua política interna. Isso é ilegal e perigoso.”

O que vem pela frente?

Com negociações travadas e o clima político deteriorado, o Brasil aposta em diplomacia multilateral e apoio dos parceiros do Brics. Lula já sinalizou que pretende conversar com Narendra Modi e Xi Jinping sobre o tema.

Enquanto isso, empresas brasileiras tentam se adaptar, redirecionando exportações e renegociando contratos. O futuro da relação comercial entre Brasil e EUA permanece incerto e altamente volátil.

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Um pouco sobre nós

José Pereira

O editor e fundador do portal bruenque.com.br. Há duas décadas joga no time do jornalismo da Rádio Tribuna de Regeneração: produziu e editou milhares de matérias, reportagens e entrevistas ao longo de 23 anos atuando na área.

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