Bruenque.com.brMUNDOTrump recua e elimina tarifa de 40% sobre produtos brasileiros; Lula comemora avanço nas negociações e alívio para o agro

Trump recua e elimina tarifa de 40% sobre produtos brasileiros; Lula comemora avanço nas negociações e alívio para o agro

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de eliminar a tarifa adicional de 40% sobre diversos produtos brasileiros marca um ponto de virada nas negociações comerciais entre os dois países. A medida, anunciada na quinta-feira (20), beneficia setores estratégicos do agronegócio nacional, como carne bovina, café e frutas, e é vista como um avanço concreto após meses de tensão diplomática e prejuízos bilionários para exportadores brasileiros.

O que aconteceu?

Em agosto, Trump havia imposto uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, somando-se à tarifa recíproca global de 10%, o que elevou a taxação para 50% em alguns casos. A justificativa oficial foi uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional americana, citando práticas comerciais e, indiretamente, questões políticas envolvendo o Brasil. O impacto foi imediato: embarques de café e carne despencaram, e setores como frutas e calçados viram suas vendas aos EUA minguarem.

Agora, após conversas diretas entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de reuniões técnicas entre autoridades dos dois países, a Casa Branca publicou uma ordem executiva retirando a tarifa extra para mais de 200 itens agropecuários. A decisão é retroativa a 13 de novembro, garantindo reembolso para mercadorias já desembaraçadas.

Por que a mudança?

O recuo de Trump tem múltiplas motivações. Internamente, a pressão inflacionária nos EUA, especialmente nos supermercados, vinha corroendo a popularidade do governo republicano. Produtos como carne e café, essenciais para o consumidor americano, ficaram mais caros após o tarifaço. Economistas apontam que a medida busca aliviar preços e sinalizar pragmatismo político antes das eleições legislativas de 2026.

Externamente, pesou o avanço das negociações com o Brasil. A ordem executiva menciona explicitamente a ligação entre Trump e Lula em 6 de outubro, quando ambos concordaram em abrir diálogo para revisar as tarifas. Desde então, ministros como Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) intensificaram tratativas com autoridades americanas, incluindo o secretário de Estado Marco Rubio.

Quem ganha com a decisão?

O maior impacto positivo recai sobre o agronegócio. Produtos como carne bovina, café torrado e moído, banana, manga, açaí, castanhas e suco de laranja agora entram nos EUA com tarifa zero. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a reversão “reforça a estabilidade do comércio internacional e mantém condições equilibradas para todos os países envolvidos”. Já o Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé) estima que a medida evita perdas de até US$ 3 bilhões e abre espaço para ampliar a presença do café brasileiro no varejo norte-americano.

Além disso, frutas tropicais e especiarias brasileiras, como cúrcuma e cardamomo, também foram contempladas, fortalecendo nichos de mercado nos EUA. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) celebrou o anúncio como “um avanço concreto na renovação da agenda bilateral”.

Quem ficou de fora?

Apesar do alívio, nem todos os setores foram beneficiados. Produtos industrializados, como café solúvel, calçados, máquinas e equipamentos, continuam sujeitos à tarifa de 40%. A indústria de pescados também não foi contemplada, gerando frustração entre exportadores. “Estamos felizes pelos setores que avançaram, mas frustrados por não vermos evolução para o pescado”, afirmou a Abipesca em nota.

Segundo estudo da CNI, mesmo após a ampliação das isenções, 62,9% das exportações brasileiras aos EUA ainda enfrentam algum tipo de tarifa adicional. Isso inclui sobretaxas específicas para aço e alumínio, além da tarifa combinada de 50% que permanece para parte dos produtos.

Impactos econômicos

Analistas avaliam que a medida devolve competitividade ao Brasil e pode impulsionar as exportações nos próximos meses. “O café brasileiro volta a competir em pé de igualdade com outras origens”, afirmou Marcos Matos, CEO do Cecafé. No setor de carnes, a expectativa é retomar volumes próximos aos registrados antes do tarifaço, quando o Brasil exportava até 40 mil toneladas mensais para os EUA.

No entanto, especialistas alertam para riscos de desvio de comércio. Países como Colômbia e Vietnã, que já possuem acordos preferenciais com os EUA, podem aproveitar para ocupar espaço deixado pelo Brasil em segmentos ainda penalizados, como café solúvel.

O governo brasileiro promete manter a pressão para ampliar a lista de isenções e derrubar tarifas sobre produtos industriais. “Recebemos com satisfação a decisão, mas seguiremos negociando para eliminar as tarifas adicionais sobre o restante da pauta”, afirmou o Itamaraty em nota oficial.

Reações políticas

A decisão foi comemorada por Lula, que classificou o recuo como “vitória do diálogo, da diplomacia e do bom senso”. Em vídeo publicado nas redes sociais, o presidente afirmou: “Trump deu um bom sinal. Se com duas conversas chegamos até aqui, com três ou quatro vamos zerar qualquer celeuma comercial”.

A ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) também celebrou, chamando a medida de “derrota dos traidores”, em referência a Jair Bolsonaro e aliados que teriam apoiado o tarifaço. Já Eduardo Bolsonaro minimizou o papel da diplomacia brasileira, atribuindo a decisão a “fatores internos” nos EUA, como a necessidade de conter a inflação.

O que esperar?

Embora a retirada da tarifa de 40% represente um avanço, o caminho para normalizar as relações comerciais ainda é longo. Setores industriais seguem penalizados, e há incertezas sobre o ritmo das negociações. Para economistas, o movimento indica uma inflexão na política tarifária de Trump, mas não elimina o risco de novas medidas protecionistas.

Para o Brasil, a prioridade agora é consolidar ganhos no agro e avançar sobre produtos de maior valor agregado. Como destacou Geraldo Alckmin, “os avanços significam emprego, desenvolvimento e mais comércio exterior”. O desafio será manter o diálogo aberto e transformar essa vitória parcial em um acordo mais amplo.

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Um pouco sobre nós

José Pereira

O editor e fundador do portal bruenque.com.br. Há duas décadas joga no time do jornalismo da Rádio Tribuna de Regeneração: produziu e editou milhares de matérias, reportagens e entrevistas ao longo de 23 anos atuando na área.

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