A cidade de Regeneração, interior do Piauí, voltou a ser palco de uma operação ambiental de grande porte. Entre os dias 15 e 26 de setembro, a Polícia Militar do Piauí, por meio do Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), e o Ibama realizaram a Operação Mata Viva e Espera, com ações de fiscalização em vários municípios do estado, incluindo Alvorada do Gurguéia, Curimatá, Jardim do Mulato e Santa Cruz dos Milagres. Além da Terra de Bruenque, alvo da ofensiva da polícia ambiental pela segunda vez em três meses.
Armas, munições e materiais de caça: o arsenal da ilegalidade
Durante a operação, foram apreendidas 10 armas de fogo artesanais, entre elas espingardas de calibres variados e o modelo “bate-bucha”, amplamente utilizado na caça ilegal. Também foram recolhidos 17 materiais de caça, como armadilhas, apitos e facões, além de 113 cartuchos (42 intactos e 71 deflagrados), frascos de pólvora, chumbo e espoletas.
Fauna silvestre em risco: animais vivos e abatidos
A operação também resultou no resgate de sete animais silvestres vivos, como papagaios, papa-capins, xexéu e um quati. Outros 18 animais abatidos, incluindo veados, jacus e aves diversas, foram encontrados, totalizando 25 espécimes retirados de circulação.
Regeneração no foco: segunda operação em três meses
Em junho de 2025, o município de Regeneração foi cenário da maior operação ambiental da década no Piauí contra fornos de carvão, batizada de Castelo de Barro II, que desmontou 35 fornos ilegais de carvão vegetal e apreendeu quase 300 sacos de carvão prontos para comercialização.
Na ocasião, cerca de 400 hectares de vegetação nativa foram identificados como desmatados, com espécies de alto valor ecológico como ipê, jacarandá e jatobá entre as árvores derrubadas. A ação foi coordenada pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (Semarh), com apoio de tecnologia de monitoramento por satélite.
O sistema Imai permite mapear com precisão áreas de desmatamento e responsabilizar os verdadeiros autores desses crimes.
Na época, o secretário de Meio Ambiente, Feliphe Araújo, destacou a importância da tecnologia no combate ambiental:
“O combate aos crimes ambientais não pode ser feito no escuro. Precisamos usar tecnologia, dados e inteligência para chegar aos verdadeiros responsáveis por esse tipo de devastação”, declarou Araújo em entrevista.
Panorama estadual: outras ações recentes
A ofensiva ambiental em Regeneração se insere em um contexto mais amplo de intensificação das ações no estado. Entre agosto e setembro, a operação Biodiversidade Caatingueira I percorreu 20 municípios do sul do Piauí, resultando na apreensão de 38 armas de fogo, 305 munições e 23 animais silvestres, além de multas que ultrapassaram R$ 112 mil.
Em outra frente, a Polícia Federal e o Ibama apreenderam toneladas de barbatanas de tubarão em Parnaíba, ligadas a um esquema internacional de tráfico de animais marinhos. Dois cidadãos chineses foram presos em flagrante.
Já em São João da Fronteira, uma churrascaria foi flagrada com 41 animais silvestres em cativeiro, incluindo caititus e cutias, abatidos para comercialização de carne de caça.
Dados da operação em Regeneração e as outras 04 cidades (setembro 2025)
Armas apreendidas: 10 artesanais
Materiais de caça: 17 itens
Munições: 113 cartuchos (42 intactos, 71 deflagrados)
Animais vivos resgatados: 7
Animais abatidos apreendidos: 18
Total de abordagens: 75 pessoas
Veículos fiscalizados: 55 motocicletas e 5 automóveis
Autos de infração emitidos: diversos, sob responsabilidade do Ibama
Enfrentamento aos crimes ambientais vai além das apreensões
A caça e o comércio ilegal de animais silvestres não apenas violam a legislação, mas também colocam em risco a saúde pública e o equilíbrio dos ecossistemas.
A quantidade de armamentos, munições e animais — vivos e abatidos — apreendidos durante a operação revela uma estrutura organizada de caça predatória, que representa uma ameaça direta à biodiversidade em todo o estado do Piauí.
O combate a crimes ambientais exige ações contínuas e integradas. A integração entre órgãos como PM, Ibama, Semarh e ICMBio tem se mostrado eficaz, mas o desafio é estrutural. Não basta apenas apreender. É preciso mudar a cultura da exploração predatória e promover alternativas sustentáveis para as comunidades locais.