Bruenque.com.brMUNDOLula e Trump quebram o gelo: telefonema abre caminho para negociações comerciais sobre tarifaço e sanções

Lula e Trump quebram o gelo: telefonema abre caminho para negociações comerciais sobre tarifaço e sanções

Em um gesto de aproximação, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump conversaram por telefone na manhã de segunda-feira, 6 de outubro, por cerca de 30 minutos. O diálogo, descrito como “amistoso” por ambos os lados, marca uma virada nas relações entre Brasil e Estados Unidos, após meses de tensão provocada pela imposição de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros.

A ligação, que partiu da Casa Branca, foi o primeiro contato direto entre os líderes desde o breve encontro nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em setembro, quando Trump mencionou uma “química excelente” com Lula. Agora, com a troca de números pessoais e a promessa de um encontro presencial, os dois presidentes sinalizam disposição para restaurar os laços históricos entre as duas maiores democracias do Ocidente.

O que está em jogo: tarifas, sanções e comércio bilateral

Durante a conversa, Lula solicitou a retirada da sobretaxa de 40% a 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros, como café, carne bovina, pescados e máquinas industriais. O presidente brasileiro também pediu o fim das sanções aplicadas contra autoridades nacionais, incluindo o ministro do STF Alexandre de Moraes e sua esposa, alvo da Lei Magnitsky.

Lula destacou que o Brasil é um dos poucos países do G20 com os quais os Estados Unidos mantêm superávit na balança comercial. “Não há justificativa econômica para essas tarifas”, teria dito o presidente, segundo fontes do Planalto. Trump, por sua vez, reconheceu que os americanos estão “sentindo falta” de produtos brasileiros, especialmente o café, e afirmou que “nossos países vão se dar muito bem juntos”.

Marco Rubio: o negociador que preocupa Brasília

Apesar do tom cordial da conversa, a escolha de Marco Rubio como interlocutor americano nas negociações acendeu alertas no governo brasileiro. Secretário de Estado e figura influente no governo Trump, Rubio é conhecido por sua postura linha-dura contra governos de esquerda na América Latina e por sua proximidade com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que vive nos EUA e articula sanções contra o Brasil.

Rubio já criticou publicamente o ministro Alexandre de Moraes e liderou ações de revogação de vistos de autoridades brasileiras. Em julho, ele se reuniu reservadamente com o chanceler Mauro Vieira em Washington, o que agora é visto como um possível ponto de partida para negociações mais pragmáticas.

Apesar das reservas, o governo Lula aposta na relação pessoal entre Vieira e Rubio para avançar nas tratativas. “O importante é que ele tem acesso direto a Trump”, afirmou Celso Amorim, assessor especial da Presidência. “Se ele seguir as instruções do presidente, há espaço para diálogo.”

Reações no Brasil: otimismo cauteloso e impacto político

Do lado brasileiro, a conversa foi acompanhada por Geraldo Alckmin, Fernando Haddad, Mauro Vieira, Sidônio Palmeira e Celso Amorim. Alckmin classificou o diálogo como “melhor do que o esperado” e disse estar otimista com os desdobramentos. “Vamos avançar para o ganha-ganha”, declarou.

A indústria nacional também reagiu com esperança. José Velloso, presidente da Abimaq, acredita que a conversa pode abrir espaço para exceções às tarifas e até para um acordo comercial mais amplo. “Agora é a vez do Brasil”, disse. Já Fernando Pimentel, da Abit, destacou a importância da diplomacia governamental para preservar a relação histórica entre os dois países.

No campo político, a aproximação entre Lula e Trump foi vista como um revés para o bolsonarismo. Eduardo Bolsonaro comemorou a escolha de Rubio, mas aliados do governo ironizaram a reação. “Cadê a impossibilidade de diálogo com o Trump?”, provocou o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP).

Próximos passos: encontro presencial e agenda internacional

Lula sugeriu que o encontro presencial com Trump ocorra durante a Cúpula da ASEAN, na Malásia, entre 26 e 28 de outubro. Também reiterou o convite para que o presidente americano participe da COP30, em Belém, em novembro. Caso nenhuma das opções se concretize, Lula se dispôs a viajar aos Estados Unidos.

Segundo Celso Amorim, o presidente brasileiro pretende ampliar a pauta da conversa, incluindo temas como a guerra na Ucrânia, a situação no Oriente Médio e os minerais críticos brasileiros, essenciais para a transição energética global. “Será uma conversa mais ampla”, afirmou.

Enquanto isso, as equipes técnicas dos dois países devem iniciar as negociações comerciais. Do lado brasileiro, Alckmin, Haddad e Vieira lideram o processo. Do lado americano, Rubio será o principal interlocutor.

Nova fase nas relações Brasil-EUA?

A conversa entre Lula e Trump representa mais do que um gesto diplomático. É um movimento estratégico que pode redefinir a relação entre os dois países, com impactos diretos na economia, na política externa e até no cenário eleitoral brasileiro.

Embora ainda haja obstáculos — especialmente com a presença de Rubio nas negociações — o tom amistoso e a disposição para o diálogo indicam que há espaço para avanços. Como disse Trump em sua rede social: “Gostei da conversa — nossos países se darão muito bem juntos!”

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Um pouco sobre nós

José Pereira

O editor e fundador do portal bruenque.com.br. Há duas décadas joga no time do jornalismo da Rádio Tribuna de Regeneração: produziu e editou milhares de matérias, reportagens e entrevistas ao longo de 23 anos atuando na área.

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