Bruenque.com.brMUNDOCOP30 começa com apelo global por ação climática e fundo bilionário para florestas tropicais

COP30 começa com apelo global por ação climática e fundo bilionário para florestas tropicais

06 de novembro de 2025. A COP30 começou oficialmente com a Cúpula dos Líderes, reunindo mais de 50 chefes de Estado e representantes de 143 delegações no coração da Amazônia. O evento, que antecede as negociações formais da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, foi marcado por discursos contundentes, anúncios financeiros estratégicos e um forte apelo à ação climática imediata.

Lançamento do Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF)

O grande destaque do dia foi o lançamento do Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF), uma iniciativa brasileira que visa mobilizar até US$ 125 bilhões para financiar a conservação de florestas tropicais em países em desenvolvimento. O fundo não se baseia em doações, mas sim em investimentos — com retorno financeiro garantido por títulos emitidos pelo Banco Mundial.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião da COP30, apresentou o fundo como uma resposta concreta à urgência climática. “Não é só pedir para manter a floresta em pé. É preciso garantir saúde, educação e renda para quem vive nela”, disse Lula, durante almoço com líderes mundiais.

Até agora, os compromissos somam US$ 5,5 bilhões, com destaque para:

Noruega: US$ 3 bilhões em empréstimos até 2035, com reembolso previsto até 2075.

Brasil: US$ 1 bilhão.

Indonésia: US$ 1 bilhão.

França: €500 milhões.

Portugal e Holanda: contribuições menores para custos operacionais.

Um dos principais resultados do dia foi o anúncio de contribuições ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), proposta brasileira para remunerar países que preservam seus biomas. A Noruega surpreendeu ao comprometer US$ 3 bilhões — o maior valor até agora. O primeiro-ministro Jonas Gahr Støre justificou:

“Não há tempo a perder se quisermos salvar as florestas tropicais. Detê-las é vital para reduzir os impactos climáticos.”

Reino Unido e Finlândia decepcionam

Apesar de elogios públicos ao TFFF, Reino Unido e Finlândia frustraram expectativas ao não anunciar investimentos. O príncipe William, presente em Belém, chamou o fundo de “um passo visionário”, mas afirmou que o foco do governo britânico está no crescimento interno. Ainda assim, prometeu mobilizar o setor privado para apoiar a iniciativa.

A ausência de um aporte britânico foi considerada “desagradável” nos bastidores, especialmente após o envolvimento do Reino Unido na concepção do fundo. A Finlândia, por sua vez, reconheceu o valor do TFFF, mas descartou contribuições imediatas.

Alemanha e outros potenciais investidores

A Alemanha sinalizou apoio ao fundo em pronunciamento no Parlamento, mas ainda não divulgou valores. Outros países considerados potenciais investidores incluem Canadá, China, Japão, Emirados Árabes Unidos, Suécia, União Europeia, entre outros.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, demonstrou otimismo: “Já conseguimos 50% da meta de US$ 10 bilhões até 2026. A expectativa é que cada dólar público atraia quatro dólares privados”.

 A COP da verdade

Em seu discurso de abertura, Lula afirmou que a COP30 será “a COP da verdade”, destacando a urgência de enfrentar a crise climática com coragem e cooperação. Ele propôs um “mapa do caminho” para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e pediu US$ 1,3 trilhão em financiamento climático até 2035, conforme o Roteiro Baku–Belém, elaborado em parceria com o Azerbaijão.

Lula, que abriu os trabalhos ainda defendeu em seu discurso, a importância de unir preservação ambiental e desenvolvimento social, citando os povos da Amazônia:

“Não é só pedir para a gente manter a floresta em pé. Para ela ficar em pé, precisamos dar sustentação econômica, educacional e de saúde às pessoas que cuidam dela.”

O presidente também anunciou o compromisso do Brasil de recuperar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas em dez anos, além de ampliar a proteção das áreas marinhas de 26% para 30%.

 Guterres cobra implementação imediata

O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi enfático: “Não é mais tempo de negociar. É hora de implementar”. Ele alertou que o mundo ultrapassará o limite de 1,5°C de aquecimento global já na próxima década, e que os planos atuais colocam o planeta no caminho de 2,5°C até 2100.

Guterres criticou os subsídios aos combustíveis fósseis e o lobby das indústrias poluentes:

“Os combustíveis fósseis ainda recebem subsídios enormes. Precisamos de coragem política, não de mais promessas (..) Eles bloqueiam o progresso e enganam o público. Precisamos de uma mudança de paradigma”.

O espanhol pediu que países desenvolvidos liderem a mobilização de US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento climático até 2035, conforme acordado na COP29.

 Vozes indígenas e justiça climática

Um dos momentos mais marcantes foi a valorização dos povos indígenas como guardiões das florestas. O príncipe William destacou: “A verdadeira liderança climática significa ouvir aqueles que vivem em harmonia com a natureza”.

Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém, Pará – foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Lula também citou os Yanomami, lembrando a crença de que os humanos sustentam o céu para que ele não caia sobre a Terra. “Essa perspectiva dá a medida da nossa responsabilidade”, afirmou.

Desafios

Apesar do tom otimista, a COP30 também expôs contradições. Enquanto o governo brasileiro defende o fim dos combustíveis fósseis, a Petrobras recebeu licença para realizar pesquisas na Margem Equatorial, região próxima à Foz do Amazonas. Lula justificou: “É uma etapa técnica. A exploração comercial exigirá novo licenciamento”.

A ministra Marina Silva reforçou o compromisso de zerar o desmatamento até 2030 e destacou a redução de 50% no desmatamento da Amazônia nos últimos dois anos.

O que vem pela frente

A Cúpula dos Líderes continua nesta sexta-feira (7), com sessões sobre transição energética e os dez anos do Acordo de Paris. A expectativa é consolidar o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis (Belém 4x), liderado por Brasil, Itália e Japão, que pretende quadruplicar o uso de biocombustíveis até 2035.

A COP30 segue até o dia 21 de novembro, com negociações formais entre os 198 países da Convenção-Quadro da ONU. A esperança é que Belém se torne o ponto de virada na luta contra a crise climática.

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Um pouco sobre nós

José Pereira

O editor e fundador do portal bruenque.com.br. Há duas décadas joga no time do jornalismo da Rádio Tribuna de Regeneração: produziu e editou milhares de matérias, reportagens e entrevistas ao longo de 23 anos atuando na área.

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