Na madrugada desta quarta-feira, 4 de junho de 2025, o Brasil perdeu uma de suas maiores referências científicas: a arqueóloga Niède Guidon, aos 92 anos. A notícia foi confirmada pelo perfil oficial do Parque Nacional da Serra da Capivara nas redes sociais, onde Niède dedicou grande parte de sua vida à pesquisa e preservação.
Impacto na Ciência e Cultura Brasileira
Niède Guidon foi uma figura central na arqueologia brasileira, conhecida mundialmente por suas escavações que revelaram pinturas rupestres na Serra da Capivara, no Piauí. Essas descobertas mudaram o entendimento sobre o povoamento das Américas, desafiando teorias estabelecidas e propondo que a presença humana na região poderia datar de até 100 mil anos atrás.
Em 2020, Niède foi a primeira brasileira a receber o Hypatia Award, reconhecendo seu trabalho na criação e conservação do Parque Nacional da Serra da Capivara. Além disso, ela fundou o Museu do Homem Americano, contribuindo significativamente para a valorização do patrimônio histórico e cultural do Brasil.
Reações de Autoridades e Instituições
Diversas autoridades e instituições brasileiras expressaram seu pesar pela perda de Niède Guidon. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou em nota oficial: “A ciência brasileira fica mais triste com o falecimento de Niède Guidon, que nos ajudou a entender as origens do homem no continente americano. Sua atuação foi fundamental para tornar a Serra da Capivara um patrimônio cultural da humanidade.”
O governador do Piauí, Rafael Fonteles, decretou luto oficial de três dias no estado e ressaltou: “Referência mundial na arqueologia, Niède dedicou sua vida à ciência e à preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, transformando o Piauí em protagonista global na conservação da natureza e do patrimônio cultural da humanidade.”
Silvio Mendes, prefeito de Teresina, também lamentou a perda: “Niède foi fundamental para a valorização do patrimônio histórico do Piauí, especialmente no Parque Nacional da Serra da Capivara. Nossos sentimentos aos familiares e amigos.”
Legado e Contribuições
Niède Guidon não apenas revolucionou a arqueologia, mas também teve um impacto profundo na sociedade local. Ela ajudou muitas mulheres a romper ciclos de violência e conquistar autonomia financeira, inspirando uma geração de piauienses. Adriana Abujamra, autora do livro “Niède Guidon: Uma arqueóloga no sertão”, destacou: “A relevância da Niède passa por muitos lugares que ultrapassam, na verdade, a arqueologia. Ela fez uma transformação, uma revolução com as mulheres daquela região.”
A criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, idealizado por Niède, colocou o Piauí no mapa da arqueologia mundial. O bioma da caatinga, muitas vezes visto como infértil, ganhou nova interpretação através de seu trabalho. Niède acreditava que a resiliência da vegetação nordestina refletia a própria persistência necessária para manter vivo o parque ao longo das décadas.
Reconhecimento e Homenagens
Em 2024, Niède foi agraciada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), a maior honraria da instituição. Em nota oficial, a UFPI lamentou profundamente o falecimento da arqueóloga: “Reconhecida como um dos maiores nomes da ciência brasileira, a cientista dedicou mais de cinco décadas à pesquisa, proteção e valorização do Parque Nacional da Serra da Capivara, hoje considerado um dos mais importantes sítios arqueológicos do planeta.”
Niède Guidon deixou um legado eterno que continuará inspirando gerações. Sua dedicação à ciência, à preservação do patrimônio cultural e ao desenvolvimento social do Piauí transformou a região e o país. Como afirmou Margarete Coelho, diretora do Sebrae Nacional: “Mais do que uma cientista, Niède foi uma incansável defensora da preservação do patrimônio cultural e natural do país. Seu nome estará para sempre gravado nas pedras que ajudou a revelar — e nos corações de todos que sonham com um país que valorize seu patrimônio e seus cientistas.”