Em abril de 2010, a Suzano papel e celulose – maior empresa do mundo nesse setor – anunciou um mega investimento no estado do Piauí. O plano era investir quase R$ 5 bilhões no negócio do eucalipto: o que incluía a construção de uma fábrica na cidade de Palmeirais e a geração de 10 mil empregos diretos e 15, indiretos no estado.
O anúncio da instalação da fábrica gerou uma enorme expectativa nas cidades do Médio Parnaíba.
Iludidos pelas promessas de progresso e altos lucros. Prefeitos abriram a mão da arrecadação de impostos na troca da geração de trabalho para os locais, dezenas de empreendedores redireccionaram seus antigos negócios, venderam tudo que tinham e ainda contraíram milhões de reais juntos a bancos para investir pesado no negócio do papel.
Dezenas de pessoas foram expulsas das terras onde nasceram e cresceram, milhares de hectares de matas nativas foram desmatadas para se plantar o Eucalyptus.
O sonho de todos era que toda produção fosse comprada pela Suzano quando a fábrica estivesse funcionando a pleno vapor na cidade de Palmeirais.
Os lucros eram certos ,afinal, nem uma empresa iria investir R$ 4 bilhões e meio de reais para ir embora três anos mais tarde. Entretanto foi exatamente o que aconteceu.
Em 2013, para choque e espanto de todos que acreditariam que iriam Bamburrar em cima de pés de eucaliptos. Walter Schalka, o presidente da companhia, anunciou por videoconferência que a empresa estava suspendendo temporariamente as atividades no Piauí. Era um adeus. Sem dar muitas explicações , a Suzano deixou para trás um legado de prejuízos ambientais e produtores praticamente na ruína.
A primeira sementinha foi plantada em Regeneração – PI.
Regeneração foi uma das cidades piauienses que entraram no mapa do progresso da Suzano em 2010. A terra do índio Bruenque também foi palco do primeiro ato, do que promete ser uma longa e arrastada batalha judicial por parte daqueles que foram abandonados pela maior empresa do mundo no ramo da celulose.
Nove anos após, a Suzano papel e celulose comunicar sua retirada do estado . Uma audiência pública na Câmara Municipal de vereadores de Regeneração PI reuniu um grupo de prefeitos, produtores rurais e outros empreendedores que ,agora, cobram ressarcimentos pelos investimentos financeiros que fizeram, além de outros danos causados pela multinacional.
Autoridades na audiência, que debateu a saída da Suzano Papel e Celulose.
Estiveram no encontro, o prefeito de Regeneração (Seu Dua), o prefeito de Monsenhor Gil (João Luiz), o prefeito da cidade de Tanque do Piauí (Tiel Sales) Acompanhado do presidente da câmara de vereadores, Luiz dos Santos (o Barel) . Participaram também do evento, o ex-prefeito de Hugo Napoleão (Hélio Rodrigues), o Deputado Estadual Marden Menezes, o Major da Polícia Militar (Diego Melo), entre várias outras autoridades, empresários e políticos.
“Realmente a empresa saiu, nos deixou todos realmente a ver navios, ela deixou um passivo social, econômico e ambiental no estado, isso é passivo de entendimento nesses três pilares que ela prega. Como o vereador Samuel disse, é muito bonito o site dela ,é muito bonito as técnicas que ela usa que nos deixou aqui na mão”. As palavras são do produtor de mudas Eliezer e resumem o sentimento de dezenas de produtores rurais piauienses.
Acreditando no grande potencial do negócio, que mudaria toda realidade econômica e social da cidade de Regeneração , o engenheiro florestal investiu em um grande projeto de manejo de produção de mudas de eucalipto, para fornecer um grande volume de pés a líder mundial do setor – Eliezer ainda hoje espera pelas carretas da Suzano em sua propriedade.
Convidado a participar da audiência pública, o empresário dono da Real Regeneração Agropecuária- Tiago Junqueira. Foi um dos que, assim, como muitos outros empreendedores, acreditaram no ciclo econômico do eucalipto, e promessas da Suzano para o estado do Piauí .
No lugar mais alto do parlamento Regenerense, o empresário falou de todas a frustração deixadas pela Suzano:
– Seria um Piauí antes e um Piauí depois da Suzano. Prometeram dezenas de coisa e não cumpriram nada, deram uma banana para o estado do Piauí, para os municípios, para os produtores e para todos aqueles que de uma forma ou de outra acreditaram na Suzano: compraram terrenos perto de onde foi anunciada a construção da fábrica, pensaram em construir postos de gasolina, hotéis, restaurantes, viveiros de mudas para produção de clone, enfim, é uma cadeia gigante que envolve o setor florestal – disse Tiago.
O dono da Fazenda Chapada grande afirmou ainda que, apesar das dezenas de cobranças por uma explicação, a Suzano vem fazendo ouvido de mercador a todos os questionamentos:
– Quando a gente pressionou e questiona a Suzano para ela explicar os reais e verdadeiros motivos dela ter abandonado o Piauí e ter instalado a fábrica em imperatriz, a gente tem exatamente isso que a gente está vendendo aqui hoje como resposta – o nada, as costas ,a banana, o desrespeito , a falta de consideração com o Estado do Piauí, com os municípios e com os produtores – denunciou.
Tiago disse esperar que o encontro de Regeneração, seja apenas a primeira batalha que os municípios do Médio Parnaíba travarão contra a Suzano:
— Espero que essa seja uma sementinha , uma sementinha que todos os municípios, aqui da região do médio Parnaíba, que tiveram a frustração, as promessas não cumpridas, convoque a Suzano para audiências públicas para ver se eles vão ter a coragem de fazer o que eles fizeram aqui hoje em Regeneração. Espero que essa sementinha de hoje, vereador Samuel, seja multiplicada para outros municípios.
Cumprindo os acordos celebrados com a Suzano, a Real plantou 6 mil hectares de eucaliptos que, é claro, terminaram não indo parar na sonhada fábrica de Palmeirais.
– Nós aqui não estamos brincando de fazer audiência pública, que o ministério público tome as providências, que a câmara tome as providências, que a prefeitura tome as providências, porque não é porque a Suzano é a maior do mundo que pode fazer o que fez com o Piauí, com Regeneração e com qualquer produtor ou investidor do estado do Piauí.
O empresário encerrou acrescentando que o Piauí , apesar de ser um estado pequeno da federação, merece todo respeito da gigante mundial:
– Seja de que tamanho for, nós merecemos respeito, e a Suzano sendo a maior do mundo, tem que agir como manda o figurino, ela não pode agir com papel de moleque como ela está agindo aqui hoje em Regeneração – finalizou Tiago.
Gerardo Lira – prejuízos deixados pela Suzano papel e celulose em Regeneração.
Entre as diversas autoridades presentes, estavam também o ex – presidente da câmara de vereadores de Regeneração ,Gerardo Lira . Em sua participação, o ex parlamentar denunciou os estragos e os danos irreparáveis que a Suzano provocou na base da agricultura famíliar de Regeneração, e na vida de pequenos produtores rurais que viviam na região:
– Com esse empreendimento da Suzano aqui em nosso município, a classe que mais foi afetada foi o agricultor familiar, o nosso município era o maior produtor de ovino e ,sobretudo, de caprinos dessa região, e porque não dizer do Piauí mesmo, o que se produzia de caprino no entorno daquela grande planície ali da chapada grande não era escrito, saía de carradas e carradas de caprinos ,tudo produzido pelo nosso agricultor familiar, o nosso pequeno produtor rural – desabafou o ex – parlamentar lamentando o fim dessas atividades após achegada da Suzano.
O ex-vereador ainda fez questão de lembrar de uma outra posição privilegiada que a cidade de Regeneração ocupava antes, o município se destacava no cenário estadual como um grande produtor de fava de favera, produção que atingia a maior do Piauí:
– Na chapada grande nós tínhamos um verdadeiro garimpo da fava, de Agosto a Outubro ,o que tinha de homens trabalhando , juntando a fava, escoando essa produção natural para todas as regiões do nosso estado, para Campo maior, Piripiri, até. Então, são essas questões que nós observamos, que ficou esse legado aqui da empresa Suzano – acrescentou Gerardo Lira.
Segundo uma reportagem do portal AZ, publicada em 13 de novembro de 2019, o prejuízo total deixado pela Suzano papel e celulose no estado do Piauí , chega a ordem dos R$ 100 milhões.
A primeira semente foi plantada. Regeneração foi uma das cidades que mais prejuízos com o audacioso empreendimento da Suzano.
Não resta a menor duvida que a disputa dos pequenos prefeitos e produtores piauienses contra a Suzano celulose é uma batalha de Davi contra Golias, o processo será longo e arrastado e, certamente, deve levar anos por causa do ritmo lento do judiciário brasileiro e de inúmeros recursos que virão, mas nessa briga, um jurista filho de Regeneração acredita que ,assim, como na Bíblia, Davi pode vencer, e o estado do Piauí ainda ser indenizado.
– Essa audiência pública não será em vão e espero que os demais municípios também sigam esse exemplo. Isso vai ser mostrado no futuro, vocês podem ter certeza disso, porque se começa qualquer luta assim. É um pingo d’água que enche um oceano né, e nós vamos, vamos empreender todos os esforços para demonstrar isso para todos vocês e principalmente para o nosso povo de Regeneração – a fala é do advogado Carlos Algustos ( o Carlim ), que encerrou a audiência Pública conclamando todos os municípios piauienses que foram lesados, a se unirem para o grande e demorado combate que será travado contra o Golias mundial do setor.
A Real Regeneração Agropecuária foi a primeira empresa a mover uma ação judicial exigindo reparação da gigante do setor de celulose pelos prejuízo deixados na cidade de Regeneração.
Em novembro de 2019, advogados Suzano papel e celulose tentaram transferir a ação que a Real Regeneração move contra a empresa para o estado de são Paulo. A ousada manobra jurídica não funcionou e o processo continua no estado do Piauí, na 3ª Vara de justiça de Teresina.Resta saber até quando.
Em 09 de Fevereiro de 2022, a maior produtora de celulose e eucalipto do mundo, divulgou seu balanço para o quarto trimestre de 2021. Os bons ventos voltaram a soprar na companhia segundo todos os periódicos de economia. A Suzano anunciou um lucro líquido de R$ 2,3 bilhões para aquele período. No ano, o lucro bruto foi de R$ 8,6 bilhões.
O sonho acordou no Maranhão
Bruenque.com.br
