Em um momento decisivo na política americana, o presidente Joe Biden anunciou neste domingo (21) sua desistência da corrida pela reeleição, colocando fim a semanas de especulações sobre sua capacidade de liderar o país por mais quatro anos. Em uma carta publicada no X (antigo Twitter), o democrata afirmou que a decisão foi tomada “no melhor interesse do partido e do país” e declarou apoio à vice-presidente Kamala Harris como sua sucessora na disputa contra Donald Trump.
Pressão crescente e desempenho fragilizado
O anúncio ocorre após um mês de intensa pressão dentro do Partido Democrata, agravada pelo desempenho fraco de Biden no primeiro debate presidencial, em junho. Durante o confronto com Trump, o presidente, de 81 anos, demonstrou dificuldades de articulação, respostas hesitantes e lapsos de memória, alimentando dúvidas sobre sua aptidão física e mental.
Nos dias seguintes, veículos como The New York Times e The Washington Post publicaram editoriais pedindo sua retirada, enquanto parlamentares democratas expressaram preocupações em off. Nancy Pelosi, ex-líder da Câmara, teria dito a Biden que ele “não venceria” a eleição. Até mesmo aliados históricos, como o ex-presidente Barack Obama, manifestaram reservas em privado.
Kamala Harris assume protagonismo
Em sua carta, Biden destacou os avanços de seu governo, como a recuperação econômica pós-pandemia e a aprovação de leis históricas sobre clima e armas. Pouco depois, em outro post, endossou publicamente Harris: *”Minha primeira decisão em 2020 foi escolhê-la como vice. Hoje, apoio sua candidatura. Democratas, é hora de nos unirmos para derrotar Trump.”
A vice-presidente, de 59 anos, agradeceu o apoio e afirmou que buscará a indicação do partido. Se confirmada, será a primeira mulher negra a liderar uma chapa presidencial nos EUA. Doadores democratas já sinalizaram respaldo financeiro, com um aliado dizendo à CNN: *”O dinheiro começará a fluir novamente.”
Reações acirradas
Republicanos reagiram com críticas duras. Donald Trump, em seu perfil no Truth Social, chamou Biden de “incompetente” e afirmou que Harris será “mais fácil de derrotar”. Já o presidente da Câmara, Mike Johnson (republicano), exigiu que Biden renuncie imediatamente: “Se não está apto para campanha, não está apto para governar.”
Internacionalmente, líderes como o chanceler alemão Olaf Scholz elogiaram a decisão como “madura”. No Brasil, o governo evitou comentários, classificando o assunto como “interno”.
O que vem pela frente?
A Convenção Democrata, em agosto, definirá oficialmente o candidato do partido. Analistas apontam que Harris tem vantagem, mas nomes como Gavin Newsom (governador da Califórnia) e Gretchen Whitmer (Michigan) podem emergir como alternativas.
Biden seguirá na Presidência até janeiro, quando termina seu mandato. Em breve, fará um pronunciamento à nação para detalhar sua decisão. Seu legado, agora, será medido não apenas por suas políticas, mas pelo gesto inédito de priorizar a união partidária em detrimento de sua própria ambição.
Discurso de Joe Biden na Íntegra
“Meus queridos americanos,
Nos últimos três anos e meio, fizemos grandes progressos como nação.
Hoje, os Estados Unidos têm a economia mais forte do mundo. Realizamos investimentos históricos para reconstruir nosso país, reduzir os custos de medicamentos para idosos e expandir o acesso à saúde para um número recorde de americanos. Demos assistência vital a um milhão de veteranos expostos a toxinas durante o serviço militar. Aprovamos a primeira lei significativa sobre armas em três décadas. Nomeamos a primeira mulher negra para a Suprema Corte. E estabelecemos a legislação climática mais abrangente da história.
Neste momento, a América está em sua melhor posição para liderar o mundo.
Nada disso seria possível sem vocês, o povo americano. Juntos, superamos uma pandemia global e a pior crise econômica desde os anos 1930. Defendemos nossa democracia. E fortalecemos nossas alianças internacionais.
Foi a maior honra da minha vida servir como seu presidente. Embora minha intenção fosse concorrer à reeleição, acredito que o melhor para nosso partido e para o país é que eu encerre minha campanha e me dedique exclusivamente a cumprir meus deveres presidenciais até o fim do mandato.
Na próxima semana, falarei ao país com mais detalhes sobre essa decisão.
Por ora, quero expressar minha profunda gratidão:
A todos que trabalharam incansavelmente em minha campanha
À vice-presidente Kamala Harris, uma parceira excepcional
E a cada cidadão americano que depositou sua confiança em mim
Acredito hoje, como sempre acreditei: não há limites para o que a América pode alcançar quando estamos unidos. Basta lembrarmos quem somos – os Estados Unidos da América.
Joe Biden
21 de julho de 2024”