A cidade de Regeneração, localizada a 145 km de Teresina, no Centro-Sul do Piauí, com mais de 17 mil habitantes, tem vivido dias de tensão e medo. Em menos de dois meses, três homicídios com características de execução chocaram a população e acenderam o alerta para a escalada da violência no município. Os dois últimos ocorreram em um intervalo de apenas 10 dias.
Entre os dias 03 e 13 de julho, dois assassinatos a tiros foram registrados em pontos diferentes da cidade. As vítimas: Aderaldo Ferreira de Sousa, conhecido como “Buza”, de 38 anos, e Gregória Rocha da Silva, uma mulher em situação de rua. Ambos foram mortos com extrema violência, em crimes que, segundo a Polícia Civil, têm indícios de execução.
O caso mais recente ocorreu na madrugada do último domingo (13), no bairro Bela Vista, região conhecida como “Tocos”, marcada pelo uso de entorpecentes e prostituição. Gregória, que costumava dormir na rua, foi surpreendida por dois homens em uma motocicleta azul. Ela foi alvejada com dois tiros na cabeça e morreu no local. A cena do crime indicava que a vítima estava dormindo no momento do ataque.

A principal linha de investigação aponta para uma execução relacionada ao tráfico de drogas. A vítima, que vivia em situação de rua e era usuária de entorpecentes, pode ter sido morta por conta de uma dívida com traficantes.
Dez dias antes, na noite de quinta-feira (03), Aderaldo Ferreira, o “Buza”, foi executado com pelo menos 19 disparos de pistola 9mm em frente à sua residência, que também funcionava como bar. Dois homens encapuzados chegaram em motocicletas e atiraram à queima-roupa. A vítima morreu na hora. Segundo o delegado Saul Laurentino, o crime tem todas as características de pistolagem. Aderaldo não possuía antecedentes criminais.

“Buza, de 38 anos, é um indivíduo que não possui antecedentes criminais e nunca foi preso. No entanto, a forma como ele morreu parece muito com crime de pistolagem”, explicou o delegado Saul Laurentino.
Já em 17 de maio, outro crime brutal havia abalado a cidade. Evanilson da Cruz Pereira, o “Ventola”, de 25 anos, foi morto com tiros no mesmo bairro Bela Vista. O principal suspeito é um policial militar do Maranhão, que estava de folga na cidade e fugiu após o crime. A motivação ainda está sendo investigada, mas há relatos de uma discussão entre os dois momentos antes do assassinato.

População assustada e investigações em andamento
Os três crimes ocorreram em locais públicos, todos com uso de arma de fogo e sem subtração de bens, o que reforça a hipótese de execuções. A Delegacia de Polícia Civil de Amarante conduz as investigações, ouvindo testemunhas e analisando imagens de câmeras de segurança.
Enquanto isso, os moradores de Regeneração vivem sob tensão:
“A cidade está com medo. A gente não sabe mais o que pode acontecer. Nunca vimos tantos crimes assim em tão pouco tempo”, relatou um comerciante da região central que preferiu não se identificar.
“No meu tempo ficávamos até 2h, 3h da madrugada na praça, nas festas e voltamos para casa despreocupado, pq não tinha nada. Oh! Tempo bons”, falou um regenerense que atualmente mora fora da cidade.
A crise de segurança em Regeneração não se limita apenas aos homicídios brutais que têm chocado a população. A cidade também enfrenta uma onda de crimes como furtos, roubos de celulares, assaltos a carros e motos, que aumentam ainda mais a sensação de insegurança entre os moradores.
Recentemente, um morador teve seu carro roubado no centro da cidade, mas foi recuperado com a ajuda da Rádio Tribuna; outro teve a moto roubada na entrada do município.
Em 17 de maio, a Polícia Militar prendeu um homem acusado de praticar uma série de assaltos para roubar celulares em diferentes pontos de Regeneração. O suspeito utilizava uma motocicleta azul para abordar suas vítimas
Clamor nas redes: moradores vivem com medo e pedem socorro
Nas redes sociais, o sentimento de insegurança se espalha. Moradores têm usado suas vozes para expressar preocupação e cobrar providências:
“Regeneração está ficando cada dia mais complicada”, escreveu um morador.
“A situação tá crítica. Quem vai parar essa criminalidade?”, desabafou outro.
“Daqui uns dias a gente não vai poder ficar nem do lado de fora de casa”, comentou uma moradora.
“Regeneração já não é a mesma! Era uma cidade tranquila”, lamentou outro internauta.
Estado do Piauí é condenado, mas se recusa a cumprir decisão judicial sobre delegacia em Regeneração
Mesmo com a Polícia Militar atuando diariamente no patrulhamento ostensivo e realizando prisões em flagrante, o efetivo ainda é considerado insuficiente para uma cidade com mais de 17 mil habitantes. A ausência de uma delegacia da Polícia Civil em funcionamento pleno compromete diretamente a capacidade de investigação dos crimes.
A crise na segurança pública de Regeneração é agravada por um impasse que já dura mais de uma década. Após 14 anos de batalha judicial, o Estado do Piauí foi condenado, em decisão definitiva e irrecorrível, a instalar uma delegacia da Polícia Civil no município. No entanto, mesmo diante da sentença, o governo estadual segue se recusando a cumprir a ordem judicial.
Sem uma delegacia própria, a população precisa se deslocar até Amarante ou Água Branca para registrar boletins de ocorrência ou acompanhar inquéritos, o que dificulta o acesso à justiça e favorece a impunidade.
