Na manhã de 15 de agosto de 2023, o Brasil acordou com uma surpresa nada agradável: um apagão de grandes proporções atingiu 25 dos 26 estados e o Distrito Federal, deixando milhões de brasileiros sem energia elétrica. O evento, registrado às 8h31 pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), interrompeu abruptamente 16 mil megawatts (MW) de carga, provocando uma queda de 25,9% na energia do país em apenas dez minutos.
O que aconteceu?
Segundo o ONS, a falha teve origem na abertura da interligação elétrica entre as regiões Norte/Sudeste, o que causou uma “separação elétrica” no Sistema Interligado Nacional (SIN). Essa ruptura dividiu o país em dois blocos energéticos, comprometendo a transmissão de energia entre as regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/Centro-Oeste.
Fontes técnicas indicam que o problema começou em um circuito próximo à cidade de Imperatriz, no Maranhão. No momento da falha, o Norte e o Nordeste estavam exportando energia para o Sudeste, que não conseguiu suprir a demanda após a interrupção. Para evitar um colapso maior, o sistema acionou o ERAC (Esquema Regional de Alívio de Carga), que desliga automaticamente partes da rede para conter os danos.
Impacto nacional
O apagão afetou diretamente a rotina de milhões de brasileiros. Em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte, o transporte público foi paralisado. Passageiros do metrô precisaram caminhar pelos trilhos, enquanto semáforos desligados causaram caos no trânsito. Em hospitais, tratamentos como quimioterapia e radioterapia foram interrompidos por falta de energia suficiente nos geradores.
No Norte, a situação foi ainda mais crítica. Manaus viu fábricas suspenderem turnos e comércios funcionarem à luz de velas. Em Belém, vendedores do Mercado Ver-o-Peso encerraram o expediente mais cedo. Em Macapá, entregadores de comida ficaram sem serviço. Em algumas cidades, a energia só foi restabelecida após seis horas.
Regiões e unidades federativas afetadas pelo apagão
Sul: Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Nordeste: Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Norte: Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Tocantins, Amazonas.
Sudeste: Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais.
Centro-Oeste: Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso.
Roraima foi único estado que não sofreu com o apagão. O Estado não faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) e opera com um sistema isolado, baseado principalmente em energia termelétrica, o que o protegeu da falha que atingiu o restante do país.
Resposta do governo
O vice-presidente Geraldo Alckmin, que estava no exercício da presidência devido à viagem de Lula ao Paraguai, afirmou que a recomposição foi rápida e que “em poucas horas tudo estaria normalizado”. Às 14h30, o Ministério de Minas e Energia confirmou que o sistema havia sido restabelecido, restando apenas ajustes pontuais.
O ministro Alexandre Silveira, que também estava no Paraguai, determinou a criação de uma “sala de situação” e solicitou à Polícia Federal e à ABIN a abertura de investigações para apurar se houve falha humana ou até mesmo dolo. “Não podemos descartar nenhuma hipótese. É um setor sensível e estratégico”, declarou.
Causas ainda sob investigação
Embora o apagão tenha sido atribuído a uma falha operacional, o governo não descarta a possibilidade de erro humano ou problemas estruturais. Silveira evitou relacionar diretamente o incidente à privatização da Eletrobras, mas reiterou sua posição crítica ao modelo atual: “O setor estratégico como esse deve ter uma mão firme do Estado brasileiro”.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) descartou causas climáticas, como seca extrema ou baixa nos reservatórios. A Aneel classificou o evento como uma “ocorrência de grande porte”, e o relatório técnico completo foi prometido para os dias seguintes.
Histórico de apagões no Brasil
O episódio reacendeu memórias de outros blecautes históricos. Em 2009, uma falha em Itaipu deixou 90 milhões de pessoas sem luz no Brasil e no Paraguai. Em 2020, o Amapá ficou dez dias às escuras após um incêndio em subestação. Em 2018, uma falha na linha de transmissão de Belo Monte afetou 70 milhões de brasileiros.
Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, o Brasil registrou 42 apagões em 2022 e outros 15 no primeiro semestre de 2023. O evento de agosto foi um dos mais abrangentes da década.