O presidente da Câmara de Vereadores de Regeneração, Ciríaco Araújo, enfrenta o que pode ser o maior desafio de sua trajetória política: anular a própria eleição que o reconduziu à presidência do Legislativo municipal.
Na última quarta-feira (29), o Ministério Público do Piauí (MP-PI) recomendou a anulação da eleição da Mesa Diretora para o biênio 2025-2026. A medida foi tomada após Ciríaco ser eleito presidente da Casa pela terceira vez consecutiva, o que, segundo o MP, viola a Lei Orgânica do Município e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Ciríaco está no cargo desde 2021 e foi reeleito em 2023 e 2025. Agora, tem 10 dias para anular a eleição e convocar nova votação.
A sombra da vingança: De onde partiu a denúncia?
A pergunta que ecoa nos corredores da Câmara e nas ruas de Regeneração é: quem está por trás da denúncia? Foi uma retaliação da oposição, composta por vereadores como Jaqueline do Sindicato, Daniel Moreira, Clesyo da Biluca e Jailton do Cruz? Ou Ciríaco foi vítima do chamado fogo amigo, de aliados insatisfeitos que ambicionam o comando da Casa?
Há indícios de que a denúncia possa ter partido de dentro da própria base de apoio do prefeito Eduardo Alves Carvalho. Ciríaco, em sua recondução, desafiou abertamente a vontade do chefe do Executivo, que preferia ver Samuel da Real ou Felipe Helal na presidência da Câmara. A eleição, embora tenha ocorrido com chapa única, foi marcada por tensões e revelou fissuras no grupo político liderado por Seu Dua, do qual o PT de Ciríaco faz parte.
Em outras palavras, Ciríaco José de Araújo desafiou e passou por cima da vontade do prefeito, que queria Samuel da Real ou Felipe Helal no comando da Câmara de Vereadores de Regeneração.
O preço da insubordinação
Analistas políticos avaliam que a denúncia pode ser uma resposta à insubordinação de Ciríaco, que ignorou as preferências do prefeito e manteve-se firme na corrida pela presidência.
Importância do PT na base governista e o risco de um racha
A Denúncia que pode tirar Ciríaco Araujo da presidência da Câmara também pode provocar fortes ressentimentos no grupo político liderado pelo Doutor Paulo Rodrigues.
O PT foi primordial na eleição do prefeito Seu Dua e é peça fundamental na base governista. Além do presidente da Câmara, Ciríaco José de Araújo, tem mais dois vereadores, Odeilton Costa e Adalbertino Cunha, o vice prefeito, Roniel Boa Hora também é da sigla. Um racha nessa aliança pode comprometer a governabilidade, já que o prefeito depende da maioria confortável que tem no Legislativo hoje para aprovar projetos: 07 contra 04 da oposição.
Por outro lado, vereadores da oposição negam veementemente terem sido os autores da denúncia. Eles argumentam que todos votaram em Ciríaco no dia 1º de janeiro e que não teriam interesse em facilitar a eleição de um candidato indicado e totalmente alinhado com o prefeito, não faria sentido para eles, afirmam os opositores.
Na disputa, Ciríaco teve nove votos a favor, e dois vereadores votaram em branco.
Sinuca de bico: Anular ou enfrentar o MP?
Ciríaco Araújo está diante de um dilema. Se acatar a recomendação do MP e anular a eleição, sofrerá uma derrota política constrangedora. Se optar por resistir e levar a disputa aos tribunais, estará indo contra o entendimento consolidado do STF, que, em decisões como as ADIs 6720/AL, 6721/RJ e 6722/RO, proíbe a reeleição ilimitada para cargos em mesas diretoras de Casas Legislativas.
Procurado pelo Portal Bruenque, Ciríaco afirmou que encaminhou a recomendação do MP para análise do setor jurídico da Câmara.
– “Entendemos e respeitamos a recomendação, e vamos analisar ponto a ponto para depois tomarmos uma decisão”, disse o presidente.
O Artigo 11 e a defesa de Ciríaco
De acordo com Ciríaco, a eleição respeitou as normas regimentais e o processo democrático interno da Casa Legislativa.
Ciríaco e seus aliados argumentam que o Artigo 11 do Regimento Interno da Câmara permite três eleições consecutivas para o cargo de presidente. Eles destacam que não se trata de uma continuidade do mesmo mandato, mas de um novo ciclo que se inicia para todos os parlamentares. Cada eleição representa um ciclo distinto, com novas deliberações e escolhas por parte dos vereadores.
O que está em jogo?
A crise em Regeneração vai além da disputa pela presidência da Câmara. Para o prefeito Eduardo Alves Carvalho, a situação é delicada: perder o apoio do PT pode significar dificuldades para aprovar projetos essenciais. Já para Ciríaco, a batalha judicial pode custar caro, tanto politicamente quanto em termos de imagem pública.
Quanto à origem da denúncia, não há informações claras sobre quem a fez. Pode ter sido tanto a oposição quanto vereadores insatisfeitos da própria base de apoio do prefeito.
A eleição tumultuada e o descontentamento do prefeito Eduardo Alves Carvalho com a reeleição de Ciríaco Araújo sugerem que a denúncia pode ter vindo de dentro do próprio grupo político.
O tempo está se esgotando. Porém, outra coisa é certa: se a denúncia realmente partiu da base do governo, como muitos acharam que partiu, isso terá consequências no apoio que o prefeito tem hoje no Parlamento.
Enquanto o prazo de 10 dias corre, a cidade aguarda ansiosa pelo desfecho dessa trama, que mistura vingança, ambição e o jogo de poder na política de Regeneração.
