A cidade de Regeneração, Piauí, está de luto. Nesta sexta-feira, 07 de março, faleceu Raimundo Vieira, mais conhecido como Mariola, ex-goleiro da Seleção Regenerense e um dos maiores nomes do futebol local. Mariola, de 64 anos, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) após retornar de uma viagem ao Distrito Federal, onde visitava familiares. Ele foi internado no Hospital Francisco Ayres Cavalcante, em Amarante, e transferido em estado crítico para Teresina, mas não resistiu.
O velório está sendo realizado em sua residência, na Rua Antonio de Neiva, por trás do Estádio Municipal Alfredo Nunes, local que testemunhou suas grandes atuações. O sepultamento está marcado para acontecer às 10h no Cemitério São José, do sábado 08.
Uma lenda viva do futebol de Regeneração
Mariola era uma lenda do futebol regenerense. Cresceu no bairro Buritizinho, destacou-se nos gramados da cidade na década de 1980, defendendo a seleção local e clubes como Radar, Colorado, Rural e Internacional da Baixa. Fez parte de uma geração talentosa e nunca esquecida no futebol de Regeneração, ao lado de craques como Ferreirão Pé de Bicho, Carlão, Carlos Bugi, Moacir, Neto do Zé Maria, Chiquinho do Ditoso, Soares, Zé Filho, Marlon, Coquinho, Boim, entre muitos outros jogadores que marcaram a década.
Mariola deixou sua marca não apenas como jogador, mas também como juiz de futebol e preparador físico da seleção. A morte do ex-atleta causou grande comoção não só na comunidade esportiva, mas em toda Regeneração, onde ele era muito conhecido.
Carlão, ex-treinador da Seleção de Regeneração, emocionou-se ao falar sobre o amigo e companheiro de conquistas:
“Hoje é um dia triste para Regeneração. Mariola foi um grande goleiro e um grande cidadão. Tive a honra de jogar com ele e de tê-lo como preparador físico quando fomos campeões do intermunicipal em 1998. Ele serviu a Regeneração com toda sua dedicação e talento. Mariola morreu, mas seu nome ficará para sempre em nossos corações. Eu estou sentindo muito essa perda, era um grande amigo.”
Como última homenagem a ele, Carlão fez um pedido: “Gostaria de pedir a todos os desportistas de Regeneração, a todos os atletas, principalmente aqueles que conviveram, jogaram com ele, viram as grandes defesas dele com a camisa da seleção regenerense, que compareçam, se façam presentes no seu velório, no seu enterro, na sua missa de 7 dias, como homenagem ao grande goleiro que ele foi. Ele foi uma figura muito grande no futebol de Regeneração, ele merece.”
Cutelão, ex-zagueiro e companheiro de equipe, destacou a disciplina e a técnica de Mariola:
– “Mariola começou a jogar muito cedo na seleção, ele tinha uns 14 ou 15 anos e era reserva do Joselito, um goleiro que Chiquinho do Ditoso trouxe de Teresina. Desde que ele passou a ser o goleiro titular da seleção, não teve mais para ninguém. Mariola foi um dos melhores goleiros que vi pegar bola em Regeneração. Ele não sabia sair jogando com os pés nem era bom em tiro de meta, mas nos anos 80 esses fundamentos não eram cobrados dos goleiros como é exigido hoje. Embaixo do gol, ele era um goleiro técnico, de reflexos rápidos e muito frio, era difícil a bola passar. Nunca o vi reclamar com o juiz ou levar um cartão amarelo. Era um exemplo dentro e fora de campo. Perdemos um grande amigo e um grande desportista.”
Zé Alvino, outro ex-companheiro, lembrou da personalidade marcante de Mariola: “Ele era sincero e divertido, ele dizia a verdade, falava o que tinha que falar. Sabíamos quando ele estava sério ou brincando só pelo olhar. Era um cara especial.”
Mariola também era conhecido por suas peculiaridades. Desde 2020, a Rádio Tribuna apresenta o Programa Recordações do Esporte Regenerense. O programa, idealizado pelos ex-jogadores da seleção de Regeneração Roderinha, Carlão, Cutelo e Zé Alvino, foi criado com o objetivo de voltar atrás na história e relembrar os causos e as histórias engraçadas vividas por ex-jogadores.
Desde que o programa foi ao ar, Mariola foi um dos personagens inesquecíveis do futebol regenerense, que mais teve histórias contadas na bancada. Num dos últimos programas, Roderinha e Cutelão relembraram uma coisa que ele detestava fazer: buscar a bola no fundo da rede após tomar um gol. “Se dependesse dele, o jogo não recomeçava. Ele nunca ia pegar a bola”, brincou Cutelão.
“Todo goleiro vai buscar a bola na rede depois de tomar um gol, mas o Mariola não fazia isso. Quando o Mariola tomava um gol, não tinha quem fizesse ele pegar a bola no fundo da rede para começar o jogo,” recordou Roderinha.
Final do Intermunicipal de 1989: o gol que Mariola não viu, um lance emblemático
Um dos jogos mais emblemáticos da carreira do goleiro Raimundo Vieira, o Mariola, foi a final do Intermunicipal de Seleções Piauienses de 1989, disputada entre Regeneração e Piracuruca no Estádio Albertão. O confronto terminou com uma vitória de 3 x 2 para Piracuruca na prorrogação, após um empate de 2 x 2 no tempo regulamentar, e ficou marcado na memória dos torcedores e na trajetória do atleta. Na ocasião, Mariola foi apontado por muitos como responsável pela derrota, após não conseguir defender uma cabeçada do centroavante adversário que definiu o placar.
No entanto, o ex-goleiro sempre tratou o lance com muito humor e descontração. Em 2007, Mariola disse ao radialista Pereirinha que não se considerava injustiçado nem culpado pelo gol decisivo. Segundo ele, a falha não foi sua, mas sim uma sequência de erros defensivos. Tudo começou com uma falha de cobertura do lateral Ferreirão Pé de Bicho, que resultou em um escanteio para Piracuruca. Na cobrança, Mariola disse que esperou que a zaga afastasse a bola, já que os zagueiros de Regeneração eram altos e tinham vantagem no jogo aéreo.
No entanto, a bola acabou sendo cabeceada por um atacante de “meio metro de altura”, como ele brincou, que conseguiu finalizar por baixo dele.
Mariola ainda explicou que, no momento do lance, sua visão estava encoberta pelos companheiros de equipe, e ele sequer conseguiu ver a trajetória da bola. Para ele, a falha foi coletiva, iniciada com um erro do lateral Ferreirão e perpetuada pela zaga, que não conseguiu neutralizar a cabeçada de um atacante baixinho. Ele foi o menos culpado pelo gol.
Apesar das críticas recebidas na época, o goleiro sempre relembrava do episódio com um toque de humor e descontração.
Embora o jogo tenha terminado com a derrota de Regeneração e o título para Piracuruca, isso não apagou o brilho de Mariola, que continuou respeitado e sendo lembrado como um dos maiores goleiros da história do futebol de Regeneração.
Além de seu legado no futebol, Mariola deixa cinco filhos e uma cidade inteira de luto. Sua história será eternamente lembrada no programa “Recordações do Esporte Regenerense”, da Rádio Tribuna, onde suas façanhas e causos continuarão serem contatas.
O sentimento é de muito pesar para todos que o conheciam e admiravam. Mariola deixou uma marca inesquecível no futebol e na comunidade de Regeneração.
