Em um cenário carregado de simbolismo geopolítico e tensão diplomática, os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin se reuniram pela primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022. O encontro, realizado na base militar de Elmendorf-Richardson, durou cerca de três horas e terminou sem um acordo formal de cessar-fogo, mas com declarações que indicam uma possível retomada do diálogo entre as potências.
Recepção calorosa
A chegada dos líderes foi marcada por gestos incomuns. Trump, já em solo americano, aplaudiu Putin enquanto o presidente russo descia do avião oficial. Em seguida, os dois caminharam juntos sobre um tapete vermelho e embarcaram na limusine presidencial americana, conhecida como “A Besta”, para se dirigirem ao local da reunião. O gesto de Putin — aceitar a carona no veículo oficial de Trump — foi interpretado por analistas como um sinal de confiança e tentativa de aproximação.
Conversas reservadas e ausência de Zelensky
A reunião ocorreu sem a presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, o que gerou críticas por parte de Kiev e de aliados europeus. Zelensky, em vídeo publicado nas redes sociais, lamentou a exclusão e denunciou ataques russos simultâneos em várias cidades ucranianas. “No dia das negociações, os russos continuam matando. Isso diz muito”, afirmou.
Trump, por sua vez, declarou que pretende ligar para Zelensky e líderes da OTAN para compartilhar os resultados da conversa. “Não há acordo até que haja um acordo”, disse o presidente americano, reforçando que ainda há pontos pendentes.
Putin: elogios e exigências
Putin foi o primeiro a discursar, quebrando o protocolo diplomático. Em inglês, exaltou Trump como “um bom vizinho” e afirmou que, se o republicano estivesse no poder em 2022, a guerra não teria começado. “Posso confirmar isso”, disse, em referência à promessa de Trump durante a campanha de que encerraria o conflito em 24 horas.
Apesar do tom amistoso, Putin reiterou suas exigências: controle das regiões ocupadas pela Rússia, neutralidade da Ucrânia e garantias de segurança contra a expansão da OTAN. “Estamos sinceramente interessados em acabar com o conflito, mas as causas essenciais devem ser eliminadas”, declarou.
Trump: progresso, mas sem concessões
Trump classificou o encontro como “extremamente produtivo” e afirmou que houve “grande progresso”, embora sem detalhar os pontos discutidos. Ele evitou comprometer-se com qualquer concessão unilateral e reforçou que o destino dos territórios ocupados deve ser decidido pela Ucrânia. “Estou aqui para colocá-los à mesa, não para negociar por eles”, disse.
O presidente americano também mencionou a possibilidade de “trocas territoriais”, ideia rejeitada por Zelensky. “Não vamos recompensar a Rússia pelo que ela cometeu”, declarou o líder ucraniano dias antes da cúpula.
Putin sai vitorioso de encontro com Trump
Apesar da ausência de resultados concretos, o encontro foi considerado uma vitória simbólica para Putin. Foi sua primeira visita aos Estados Unidos em uma década, rompendo o isolamento imposto pelo Ocidente desde 2022. A imagem de Putin sorridente ao lado de Trump, acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, circulou amplamente, marcando o fim de um período de ostracismo diplomático.
Analistas apontam que a Rússia se encontra em posição de força no campo de batalha, com avanços recentes na região de Donbas. Isso pode explicar a postura inflexível de Putin durante as negociações.
Reações internacionais
A imprensa americana avaliou que Trump saiu enfraquecido do encontro, após prometer um cessar-fogo e não entregar resultados. “Para o homem que se vende como mestre da negociação, parece que Trump deixará o Alasca sem nenhum dos dois”, escreveu o correspondente da BBC, Anthony Zucker.
Por outro lado, líderes europeus expressaram alívio por Trump não ter feito concessões unilaterais. Emmanuel Macron, presidente da França, afirmou que o republicano garantiu que qualquer decisão sobre território será negociada diretamente com a Ucrânia.
A Casa Branca informou que haverá novas reuniões, possivelmente em Moscou. “Isso seria interessante. Eu seria muito atacado por isso, mas posso ver acontecendo”, disse Trump, em resposta ao convite de Putin.
A escolha do Alasca
O Alasca, comprado da Rússia pelos EUA em 1867, foi escolhido como palco da cúpula por seu valor histórico e geográfico. Putin fez questão de destacar que os países são “separados por apenas quatro quilômetros” no Estreito de Bering e mencionou a presença de igrejas ortodoxas russas no estado americano como símbolo de laços culturais.
Antes de chegar ao Alasca, Putin fez escala em Magadan, onde visitou locais históricos e homenageou a cooperação entre americanos e soviéticos na Segunda Guerra Mundial.
Embora não tenha resultado em um cessar-fogo, a reunião entre Trump e Putin representa um marco na diplomacia internacional. O clima amistoso, os gestos simbólicos e as declarações públicas indicam uma tentativa de reaproximação entre as potências, mesmo diante de profundas divergências.
A guerra na Ucrânia continua, mas o simples fato de os líderes das duas maiores potências nucleares do mundo voltarem a se encontrar pode abrir caminho para futuras negociações — desde que envolvam todos os atores relevantes, incluindo a Ucrânia.