Na manhã desta segunda-feira, 3 de março, a advogada Valdenice Gomes Celestino Soares, de 53 anos, foi assassinada a tiros na zona rural de Paulistana, município localizado a 474 km de Teresina, no Piauí. O crime, que chocou a comunidade local, tem como principal suspeito o próprio irmão da vítima, com quem ela mantinha uma longa disputa por herança de terras. Valdenice já possuía uma medida protetiva contra o irmão, emitida pela Justiça, mas isso não foi suficiente para evitar a tragédia.
De acordo com testemunhas, o encontro entre os irmãos ocorreu em uma estrada rural. Valdenice teria pedido que o irmão se afastasse, citando a medida protetiva. Irritado ao perceber que estava sendo gravado pela irmã, o suspeito sacou uma arma e efetuou vários disparos, atingindo Valdenice com pelo menos seis tiros. A advogada não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Ela estava acompanhada de uma irmã e de um sobrinho, que conseguiram fugir ilesos.
Contexto do Crime: Disputa Familiar e Falhas no Sistema de Proteção
O crime ocorreu em meio a uma disputa familiar por herança de terras, um conflito que já havia escalado para a Justiça. Valdenice atuava como assessora jurídica da Prefeitura de Paulistana, já havia obtido uma medida protetiva contra o irmão, mas a aplicação efetiva dessa medida parece ter falhado. O caso levanta questões sobre a eficácia das políticas de proteção às mulheres em situações de risco, especialmente em áreas rurais, onde o acesso à segurança pública é mais limitado.
A Prefeitura de Paulistana decretou luto oficial de três dias e emitiu uma nota lamentando a perda da advogada, destacando sua dedicação e profissionalismo. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se manifestou, repudiando o crime e cobrando uma investigação rápida e eficaz. “A violência contra advogados e advogadas é um ataque direto à Justiça e à cidadania”, afirmou a OAB em nota.
Violência que Destrói Famílias

O caso de Valdenice Gomes Celestino Soares, embora distinto em suas circunstâncias, compartilha um denominador comum com a tragédia que abalou a cidade de Regeneração, no dia 02 de novembro de 2024, envolvendo os irmãos Raimundo Leonardo e João Gabriel Ramos Mendes: a violência que emerge de conflitos familiares e a incapacidade de resolvê-los de forma pacífica.
A tragédia envolvendo os irmãos Raimundo Leonardo e João Gabriel Ramos Mendes, que terminou em um duplo homicídio e suicídio no Dia de Finados, foi um exemplo chocante de como conflitos familiares podem escalar para violência extrema quando não há mediação ou intervenção adequada. A discussão, motivada por uma dívida financeira, resultou em um desfecho trágico que deixou uma família inteira em luto. Ambos os casos evidenciam a importância da mediação familiar e do apoio psicológico em situações de conflito, especialmente quando envolvem questões financeiras ou patrimoniais.
Uma Epidemia de Violência Contra Mulheres

Recentemente, um outro caso de violência contra mulheres chocou o Piauí. Jairane Moura da Silva, grávida de dois meses, e seus dois filhos, Vinícius Emanuel, 6 anos, e João Gabriel, 8 anos, foram brutalmente assassinados dentro de sua própria casa em Paquetá. O principal suspeito é o companheiro de Jairane, Neilton, que teria invadido a residência nas primeiras horas da manhã de domingo (2) e degolado a família. Jairane já havia manifestado a intenção de terminar o relacionamento, mas Neilton não aceitava.
Valdenice possuía uma medida protetiva contra o irmão, mas a falta de efetividade na aplicação dessa medida permitiu que o crime ocorresse. Jairane, por sua vez, estava em um relacionamento abusivo e havia expressado a intenção de romper com o companheiro, o que pode ter sido o estopim para o feminicídio.
Buscas pelo Suspeito
O suspeito de matar advogada, cuja identidade não foi divulgada, fugiu do local após o crime e segue foragido. A Polícia Civil e a Polícia Militar estão realizando buscas na região para localizá-lo. Equipes especializadas analisam imagens e registros da vítima para reunir provas que possam levar à sua prisão. O tenente-coronel França, comandante do 20º Batalhão de Polícia Militar, afirmou que o crime foi cometido na frente de testemunhas, o que deve facilitar a identificação e a responsabilização do acusado.
A OAB Nacional destacou a urgência de medidas concretas para garantir a segurança das mulheres e dos profissionais da advocacia. “Este caso reforça a necessidade de políticas públicas mais robustas e eficazes voltadas à segurança e defesa das mulheres”, afirmou Beto Simonetti, presidente do Conselho Federal da OAB.
O assassinato das duas mulheres não apenas ceifou vidas, mas como já dito, também expõem falhas profundas no sistema de proteção às mulheres, que muitas vezes não consegue evitar crimes mesmo quando há medidas judiciais em vigor. A última esperança agora é que a Justiça seja rápida e eficiente na apuração dos casos, trazendo respostas e justiça às famílias das vítimas e à sociedade.
O assassinato de Valdenice e Jairane é um lembrete sombrio de que ainda há muito a ser feito para garantir a segurança e a dignidade das mulheres no Brasil.