Em um importante movimento para aprofundar os laços diplomáticos e econômicos entre Brasil e China, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping assinaram nesta sexta-feira (14) 15 acordos bilaterais em Pequim. A cerimônia de assinatura, realizada no icônico Grande Salão do Povo, marcou um compromisso renovado com a cooperação entre as duas nações em uma série de questões – desde a facilitação do comércio até a exploração espacial e a luta contra a pobreza.
Além dos 15 acordos governamentais, outros 20 acordos comerciais foram assinados entre empresas brasileiras e chinesas e instituições públicas, sinalizando uma robusta expansão das parcerias bilaterais em setores-chave como agronegócio, energia, infraestrutura e economia digital.
De acordo com o Ministério da Fazenda, os negócios devem resultar em investimentos de aproximadamente R$ 50 bilhões na economia brasileira.
Parceria estratégica reafirmada
Durante o encontro, o presidente Lula chamou a China de “parceiro preferencial” do Brasil nas relações internacionais. “É importante afirmar que a China tem sido um parceiro fundamental para o Brasil em nossas relações de comércio exterior. É com a China que mantemos o fluxo de comércio exterior mais significativo”, disse ele. Lula acrescentou que o objetivo é elevar a parceria estratégica a um novo patamar, promovendo não apenas o crescimento do comércio, mas também contribuindo para uma ordem geopolítica global equilibrada.
– “Queremos elevar o patamar da parceria estratégica entre nossos países, ampliar fluxos de comércio e equilibrar a geopolítica mundial”, finalizou.
Em seu primeiro encontro oficial com Xi Jinping durante este terceiro mandato, Lula também discutiu questões globais, incluindo a guerra na Ucrânia. Ambos os líderes concordaram que o diálogo e a negociação continuam sendo os únicos caminhos viáveis para acabar com o conflito.
Principais acordos
Entre os 15 acordos em nível governamental assinados estão:
– 1.Um memorando sobre facilitação do comércio entre o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e o Ministério do Comércio da China.
– 2.Protocolo para o desenvolvimento conjunto do satélite CBERS-6, que inclui tecnologia de ponta capaz de monitorar biomas como a Floresta Amazônica mesmo em condições nubladas.
– 3.Um plano de cooperação de longo prazo (2023–2032) no setor espacial entre a Agência Espacial Brasileira e a Administração Espacial Nacional da China.
– 4.Um acordo entre o Ministério das Comunicações do Brasil, a Anatel, e o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China para colaboração em telecomunicações.
– 5.Memorandos envolvendo pesquisa e inovação, economia digital, desenvolvimento rural e combate à fome e à pobreza.
No domínio da agricultura, foram assinados dois acordos cruciais. Um aborda a certificação de produtos de origem animal por meio eletrônico, enquanto outro descreve os requisitos sanitários e de quarentena para proteínas animais processadas exportadas do Brasil para a China. Os acordos são particularmente significativos, considerando que a China é o maior importador de carne bovina brasileira, absorvendo atualmente cerca de 60% das exportações brasileiras de carne bovina.
Acordos Comerciais e Institucionais
A agenda mais ampla também incluiu a assinatura de 20 acordos comerciais entre empresas e instituições públicas brasileiras e chinesas. Eles abrangem várias áreas: energia renovável, indústria automotiva, tecnologia agrícola, linhas de crédito verde, saúde pública e inovação tecnológica.
O Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores do Brasil) destacou outro desdobramento relevante – a inclusão do Brasil na lista de destinos autorizados da China para grupos turísticos chineses, o que deve impulsionar os fluxos turísticos bilaterais.
Os acordos complementam os anunciados durante o Seminário Econômico Brasil-China, realizado em 29 de março, totalizando mais de 40 novas parcerias entre os setores.
Um marco histórico nas relações bilaterais
Este ano marca o 50º aniversário do início das relações comerciais Brasil-China. A primeira transação comercial registrada ocorreu em 1973, apenas um ano antes do estabelecimento de laços diplomáticos oficiais. Desde então, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, posição que ocupa desde 2009.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2022, o país asiático importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros, especialmente soja e minérios, e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume comercializado, US$ 150,4 bilhões, cresceu 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004. O ano de 2023 é o cinquentenário do início das relações comerciais entre Brasil e China. A primeira venda entre os dois países aconteceu em 1973, um ano antes do estabelecimento das relações diplomáticas sino-brasileiras.
Compromissos diplomáticos e comerciais
Mais cedo nesta sexta-feira, Lula e membros de sua delegação – incluindo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco – se reuniram com Zhao Leji, presidente do Congresso Nacional do Povo da China. As discussões centraram-se no fortalecimento da parceria estratégica, no aumento do comércio e na promoção da cooperação Sul-Sul dentro das estruturas de governança global, como o BRICS.
Lula também realizou uma reunião de alto nível com Zhang Zhigang, presidente da State Grid – a principal empresa de eletricidade da China, que tem amplos investimentos no Brasil. Lula enfatizou o foco de seu governo em energia renovável e infraestrutura, especialmente a integração da geração solar e eólica com a rede elétrica nacional.
Olhando para o futuro
Esta visita à China é a quarta viagem oficial de Lula ao exterior desde que assumiu o cargo em janeiro de 2023. Segue-se a visitas anteriores à Argentina, Uruguai e Estados Unidos, e a recepção do chanceler alemão Olaf Scholz em Brasília.
Antes de deixar a China, Lula visitou Xangai, onde participou da posse da ex-presidente Dilma Rousseff à frente do Novo Banco de Desenvolvimento, instituição criada pelos países do Brics.
Sua viagem de volta inclui uma escala programada em Abu Dhabi para uma visita oficial aos Emirados Árabes Unidos.