Em 80 anos, foram 8 golpes bem-sucedidos, além de 9 que fracassaram. Na tarde dessa quarta-feira ,26 de junho, a Bolívia mais uma vez esteve à beira de um golpe de Estado.
Imagens que rodaram o mundo inteiro, mostram o momento que soldados liderados pelo ex-comandante do exército boliviano, Juan José Zuñiga, invadiram o prédio do governo com um veículo blindado tentando derrubar a porta de entrada do edifício.
Os vídeos mostraram o blindado do exército se chocando contra a entrada do palácio presidencial e soldados entrando no prédio.
Mas antes disso, tropas foram vistas marchando pelas ruas da capital.
O golpe teve início por volta do meio-dia quando a principal praça de La Paz, a capital da Bolívia, começou a ser ocupada por soldados do exército, ao ver o movimento das tropas golpistas, o presidente pediu que a população fosse às ruas defender o sistema político inventado pelos gregos antigos, e seguido pela maioria dos países do mundo.
“Hoje, mais uma vez, o país enfrenta interesses que querem acabar com a democracia na Bolívia” (…) eu convoco o povo boliviano a se organizar e se mobilizar contra o golpe de Estado e a favor da democracia, denunciava o presidente, enquanto as tropas golpistas ainda marchavam sobre a Praça Murillo.
A população começou sair às ruas, carregavam placas pedindo respeito a democracia, porém os militares montaram barricadas e dispararam gás lacrimogêneo para impedir que as pessoas entrassem atendendo ao chamado do presidente.
Não podemos permitir que as tentativas de golpe voltem”, esbravejava Luís Arce, do Palácio Quemado, sede do governo.
O estopim do golpe: Demissão e medo de Evo Morales voltar ao poder
Por trás da tentativa de golpe, está também a demissão de Juan José Zuñiga. Um dia antes, na terça-feira, o militar havia sido removido da chefia do exército após ameaçar o ex-presidente Evo Morales, dizendo que os militares não permitiriam que Morales retorne à presidência, para um quarto mandato.
“O senhor Evo Morales já foi presidente por três, quatro mandatos, reeleito. Ele está legalmente desqualificado”, disse.
Após essas declarações o chefe maior das forças armadas foi exonerado do posto de comandante do Exército, por Luís Arce.
Um vídeo também mostra o momento em que o presidente Luís Arce resistiu à tentativa de golpe de Estado, frente a frente, confronta o ex-comandante do exército boliviano, Juan José Zuñiga.
“Sou seu comandante e ordeno que retire seus soldados. Não permitirei essa insubordinação” dizia o presidente.
Após a tentativa de golpe, Arce nomeou um novo oficial militar, que ordenou que as tropas retornassem ao quartel. Após a ordem, os oficiais fardados começaram a recuar. O golpe de estado tinha fracassado!
José Zuñiga recuou e foi preso pela polícia. Mas antes disso, surpreendentemente, fez uma grave acusação, revelou quem teria sido o mentor intelectual do golpe, e disse que tudo não passou de uma armação orquestrada pelo próprio presidente boliviano Luís Arce para aumentar sua popularidade.
Luiz Arce foi eleito presidente da Bolívia em 2020. Obteve 55% dos votos validos, mais que o segundo e o terceiro colocado.
Governos do mundo inteiro condenaram o golpe, ou seja, a tentativa de derrubar um governo democraticamente eleito na Bolívia.
A última bem-sucedida tentativa de golpe de estado havia sido em 2019, quando a então segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, deu um golpe contra Evo Morales, se autoproclamou presidente interina, e governou entre 2019 e 2020. Por esse crime, foi condenada a 10 anos de prisão. Presa desde 2021, acusada de conspiração e terrorismo. Nem mesmo a ex-presidente presidiária apoiou a mais nova aventura golpista do general. Zúñiga.
“Repudio totalmente a tentativa de destruir a ordem constitucional (….) Arce e Evo devem deixar o poder pelas urnas. Os bolivianos defenderão a democracia”, disse ela.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou uma nota.
“O Governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao presidente Luís Arce e ao governo e povo bolivianos. Nesse contexto, estará em interlocução permanente com as autoridades legítimas bolivianas e com os governos dos demais países da América do Sul no sentido de rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região”, informa a nota.
O presidente Lula também condenou a tentativa de golpe na Bolívia e defendeu a democracia.
“Como eu sou um amante da democracia, eu quero que a democracia prevaleça na América Latina. Golpe nunca deu certo”, disse Lula.
Em oitenta anos, a Bolívia. Uma das repúblicas mais instáveis da América Latina, trocou de presidente mais de 40 vezes. O atual presidente, Luís Alberto Arce, passa por uma crise de popularidade e enfrenta uma grave crise econômica.
