O mundo despediu-se neste sábado (26) do Papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano, em um funeral que reuniu 250 mil pessoas na Praça de São Pedro e marcou o fim de um papado dedicado aos marginalizados. Enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, ele rompeu uma tradição de 120 anos ao escolher repousar fora do Vaticano – o último a fazê-lo foi Leão XIII, em 1903.
A cerimônia, transmitida globalmente, foi um reflexo de seu pontificado: misturou grandiosidade e simplicidade. Enquanto líderes mundiais como Donald Trump (EUA), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia) ocupavam os primeiros bancos, um grupo de refugiados, detentos e pessoas em situação de rua – símbolos de sua missão – recebeu o caixão com rosas brancas.
Um adeus entre líderes e Pobres
A missa, presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, durou cerca de duas horas e destacou o compromisso de Francisco com a paz. “Ele lavou os pés dos pobres, denunciou a guerra como um absurdo e nos lembrou que a Igreja deve ser um hospital de campanha”, afirmou Re, em referência aos gestos icônicos do papa, como a visita a campos de refugiados e a crítica aberta aos conflitos na Ucrânia e Gaza.
A presença de Zelensky e Trump – que se reuniram brevemente antes da cerimônia –trouxe esperanças sobre uma paz na guerra na Ucrânia. Horas antes, o americano declarara que Kiev e Moscou estavam “próximos de um acordo”, mas ressaltou que a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, “permaneceria russa”. Zelensky, por sua vez, manteve a posição de que “a integridade territorial da Ucrânia é inegociável”.
Lula, ao comentar o encontro, defendeu diálogo: “Essa guerra está sem explicação. Precisamos que os líderes sentem à mesa e encontrem uma solução, assim como para a violência em Gaza”. O brasileiro também homenageou Francisco: “Quisera Deus que o próximo papa tenha seu coração e sua luta contra a desigualdade”.
O túmulo que refletiu sua vida simples
O corpo de Francisco foi levado em cortejo por Roma, passando pelo Coliseu, antes de chegar à Basílica de Santa Maria Maior – sua igreja predileta, onde rezava antes de viagens. O túmulo, como pedido em seu testamento, é despojado: uma placa de mármore da região de Ligúria (terra de seus avós) com a singela inscrição “Franciscus”.
– “Era um homem que preferia o metrô ao papamóvel e morava numa casa simples, não no palácio apostólico”, lembrou o cardeal Rolandas Makrickas, destacando como o papa rejeitou ostentações até na morte.
Conflitos e legado
Francisco não evitou polêmicas. Suas críticas ao capitalismo desregulado e ao tratamento de migrantes colocaram-no em rota de colisão com figuras como Trump, que em 2016 chegou a chamá-lo de “vergonhoso” após o papa condenar a construção de muros na fronteira EUA-México. Nos últimos anos, porém, o republicano reconheceu seu papel: “Ele amava o mundo e foi um farol de esperança”.
Já na Argentina, seu país natal, a relação com a política foi tensa. Francisco nunca visitou a nação como papa, embora Javier Milei, atual presidente, tenha comparecido ao funeral. “Ele nos mostrou que a fé não é só ritual, mas ação pelos excluídos”, disse uma argentina presente à vigília em Buenos Aires.
O que vem pela frente
Com o sepultamento, inicia-se o período de sede vacante (vacância do papado). O conclave para eleger um sucessor deve ocorrer em até 20 dias, com cardeais já reunidos em Roma. Analistas apontam que o próximo papa enfrentará o desafio de manter o equilíbrio entre as alas progressista e conservadora da Igreja – divisão acentuada durante o papado de Francisco.
Enquanto isso, fiéis como Andrea Ugalde, que viajou de Los Angeles para o funeral, resumem o sentimento geral: “Ele não foi apenas um líder religioso, mas a definição do que é ser humano. Defendeu os pobres, os animais, o planeta. Sua luz não se apagará”.
Vida de Jorge Mario Bergoglio:
– Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco morreu em 21/04, aos 88 anos, após um AVC.
– Foi o primeiro papa jesuíta e a escolher o nome “Francisco” em homenagem ao santo de Assis.
– Seu papado (2013-2025) foi marcado por reformas na Cúria Romana e ênfase na ecologia (Laudato Si’).